terça-feira, 24 de maio de 2011

Mãos, Lábios e Línguas de Vulcão

 Por Jefferson Acácio



Elas vêm correndo  feito o balanço das gangorras
Correm soltas em direções paralelas
Avorassadas me abraçam tocando minhas costas
E puxam-me com força comprimindo dois corpos
Mãos abençoadas, santas mãos, beatificadas...
Trouxe para mim a energia da minha amada
E quando falo bobagem, elas rapidamente tocam minha boca
E minhas palavras voltam quietinhas pra garganta, soluçam e adormecem no peito
E meus lábios captam o tato de seus dedos quentinhos
Então me pede silêncio, pede minha tranqüilidade...
É quando suas mãos transmutam-se de santidade para sensualidade
Descem devagar escorrendo dos meus lábios, descem leves e suaves
Medicando meu corpo, estou cheio de chagas...
São mãos enfermeiras...
Encontra no caminho traçado no meu corpo o destino na vertical
Avassaladoras, as mãos, magnéticos os lábios, frenética, a língua!
Ouço harpas e flautas, ouço suspiros e flutuo nas asas da minha hárpia!
Esses seres mitológicos sempre me enfeitiçam, ninfas, sereias, deusas gregas...
Eu viajo para orientes e ocidentes
Meu corpo grita e jorra alegria!
Mas agora, suas mãos se despedem, estão distantes, num barco vazio sem direção
As mãos da minha majestade dançam bailarinas num sinal de adeus
Está muito longe para calar meus lábios...
Longe para por represas nos meus olhos...
Nenhuma arte é mais quente e verdadeira que o seu olhar,
Que seu corpo banhado do nosso suor...
Nenhuma arte resiste e nenhum poema se deitará nos seios d’outra mulher!
Minha ave de rapina partiu rápida no vôo
Despediu-se com mãos, lábios e línguas de vulcão

domingo, 15 de maio de 2011

Seu corpo, minha poesia!

 Por Jefferson Acácio



Eu quero freqüentar você
Para lavar meu corpo da monotonia
Para ser uni subserviente a você
Quero freqüentar sua boca com minha lâmina
Porque nosso corpo tem poesia

Eu quero encontrar você
Para eu escapar do transito da metrópole
Para ser uni presente onde quer que esteja
Quero encontrar sua cútis com minhas digitais
Porque nosso corpo tem poesia

Eu quero aplaudir você
Para ter um pouco mais de alegria
Para ser a tua platéia
Quero aplaudir sua cena em carnais fantasias
Porque nosso corpo tem poesia

Eu quero sentir você
Para ter a palpitação de novas poesias
Para ser a minha xamã, deusa cabalística e ninfa
Quero sentir teu pecado em meu dedo de acusação
Meu corpo sozinho só reproduz palavras e não fecunda vida

Se desprezar meus pedidos
E condenar-me do castigo de sua distância e abstinência
Não vou querer residir mais na monotonia, não...
Vou mudar-me para o vicio da boemia, sim...
Seu crime não terá sido a sua apatia
Mas a causa da morte da poesia
Minha poesia tem pacto com o seu corpo
É o meu caderno de caligrafia que percorrem silhuetas e retas!
Ela se constrói do suor do nosso sexo tântrico
Além do meu anatômico mora um poeta indissociável de você
Separar de ti é o esgotamento de mim
Sepultamos as poesias de morte súbita
E o corpo sem poesias é nudez vergonhosa e apenas produto de orgia!

sábado, 14 de maio de 2011

Moleque prodígio

 Por Jefferson Acácio





Do alto galho da árvore da vida
Eu clamo – não me deixe cair!
Lá de baixo, menino passou e disse – fruto maduro, mãe!
Será mesmo que apontou para mim?
- Não, não! Estou verde! Sou verde!
Verde é azedo, não faz suco doce nem misturando sumo da cana
Afastem-se de mim andorinhas com o tempo carregado no bico
Os ponteiros estão desajustados, ainda não é hora, ainda não está acabado!
Não me chamem de menino maduro, porque maduro cai do pé
Ainda estou conservado e juro sinto-me parte dessa árvore
Sinto a genética de suas raízes e como um produto vivo em desenvolvimento...
Sinto ainda o cheiro forte da grama lá em baixo, do vento acariciando-me...
É gostoso residir nessa árvore de tronco frondoso oxigenando a vida, semeando sabedoria e há muito o que fotossintetizar!
Chame-me de moleque prodígio - que tem casca verde e por dentro é vivido - 
Os frutos maduros são mais doces, mas os de cascas verdes não caem
A não ser que sejam colhidos mais cedo, mas não quero ir pra nenhum cesto!
É proibido chupar do fruto verde, não tem gosto bom...
Apesar do ditado do pomar - frutos proibidos são mais saborosos...
Não sei disso, não...
Mas olhe, sou muito verde!

Como eu saí da sua vida?

 Por Jefferson Acácio



O carma existencial que tanto te incomoda
É saber como eu saí da sua vida
Ora, acaso não sabes que sei nadar?
Achou que eu fosse me afogar por pular do seu barco em alto mar?
Ainda lhe afirmo vilmente que conheci incríveis arquipélagos
Juro que decorei as pigmentações de todos os corais que encontrei
Assim que achei firmamento, pisei e dispararei forte como um tornado
Tenho super poderes chamados felicidade, autodisciplina, coragem, positividade
Ah e combato todos os carmas com minha potente habilidade de amor próprio
E minha visão é meu prisma, a fé é meu talismã e os pés têm asas de Ícaro
Sou terrestre marítimo aéreo e mágico, capaz de me teletransportar!
Era assim que eu fazia quando estava no seu barco, eu me teletransportava
Levei-te a lugares mágicos, e também viajei por paraísos onde me isolava de você
Não saí da sua vida, saí do seu barco, que agora segue horizontes infinitos no oceano
Outros faróis, portos, tempestades, rezo pra não sofrer naufrágios
Bons ventos guiem o seu leme!