POESIAS

Poesias Bastardas


Por Jefferson Cruz



Eu sou puta!

Tenho filhos bastardos
Sou puta por gerar poesias e entregá-las ao mundo
Ainda descalças e sem um registro de nascimento. Bastardas.
Mas prefiro a incerteza dos caminhos por onde elas andam
Certamente se oferecendo à leitura nos faróis das cidades virtuais
Elas nascem sem embriões já alfabetizadas no HTML e códigos binários
Não sei se encantam ou entortam o nariz de quem as lêem
Só sei que a poesia é bastarda e o poeta é uma puta
O poeta mistura os espermatozóides da criatividade com hormônios extraídos da vida social
São diversos parceiros anônimos vivendo e gozando e o poeta germinando poesias
É quase uma permuta sincera, o qual vocês me dão e eu dou-lhes em retorno às minhas filhas!
Sou quase um ninfomaníaco literário.
Diversas vezes deleito-me às leituras e escritas.
Suor, suspiros e excitação de espíritos.
Nessas horas penso em tanta gente e juro não é pro benefício da masturbação
Mas meu peito e mãos também pulsam como na hora do orgasmo
Pulsam forte sufocando a caneta no papel
Pulsam forte martelando as teclas com golpes ligeiros dos meus dedos
O poeta sente, finge, fareja, mata, ressuscita, geme, morde e ladra
O poeta é verdade e é mentira, tem medo, e tem coragem
Menstrua, ovula, e germina.
E é uma puta que entrega ao mundo suas crias!


Só sei que a poesia é bastarda que se ofere à leitura  e o poeta é uma puta que entrega suas crias ao mundo!


Restos de Amor

Por Jefferson Cruz


Prometa-me que há amor no fundo do poço
Que eu vou me reduzir à lama para buscar
Por dentro de mim apodreceu o coração
Desidratado na falta do liquido
Ardente e suave que somente o amor proporciona.
Desde então me tornei um resto de vida predatória,
Um corpo quase inorgânico
Que duraria 100 anos para se decompor.
Sou uma natureza quase morta,
Um andarilho quase biodegradável,
Bem capaz de nunca morrer de vez
Para não poluir o ventre da terra.
Por isso, suplico-te, força invisível,
Mago ou qualquer ser oculto.
Ouça atentamente ao meu chamado,
Pois te rogo por esta causa particular.
Varra o planeta com sua magia e
Revele-me o esconderijo do amor
Estou numa guerra fria dos sentimentos devastados.
Prometa-me que há amor num terreno genocida
De uma civilização contaminada pelas piores doenças
Quero deslizar minha língua sob o solo
Pior é padecer de incompletude
Não dispensarei qualquer fagulha ou resto de amor
Eu faria o milagre da multiplicação;
Prometa-me cirurgicamente arrancar de mim
As memórias dos amores inventados;
Sugar toda a saliva dos que já me profanaram;
Dilacerar e escalpelar da minha derme todo disfarce
Prometa-me provar a existência do amor
Quero esse sabor mesmo no último segundo de vida
Contamina-me de amor radioativo,
Pois de agora em diante eu sou puro
Para ser revestido unicamente pelo amor!
Amor!
Ferva em mim como larvas de um vulcão adormecido! 

Flash Flime

POR JEFFERSON CRUZ


Está passando um filme inteiro numa cena curta

Curta-me… Curta-me ligeiro

Que está chegando o fim no embalo do tempo

Fragmentos… Fluidez… Rompimento!

Cédulas da Felicidade

Extraído e adaptado da minha crônica Cédulas, Amores e Abismos 
Por Jefferson Cruz



Encontrei ontem uma cédula de cinqüenta reais. Simbólica
E continha escrita: -“Qual o custo da sua felicidade?”
Pergunta simbólica que mexeu com meu imaginário
Cochilei com o nariz no farejo da nota de papel
No sonho eu via as “onças” se multiplicarem até formar um safári.
E um leopardo carnívoro me avistou de longe
Veio em minha direção com passos silenciosos e astutos
Em seu pelo havia o escrito “felicidade”
O leopardo saltou com dentes afiados
- Quimera eu ser a presa capturada pelas mandíbulas da felicidade, mas eu havia acordado do sonho.

A felicidade poderia ser como as garoupas,
Escondida em algum canto profundo de um oceano.
Ou quem sabe fosse baseada na materialidade.
As pessoas se transformariam em moréias venenosas
Defendendo seus royalties da felicidade.
Acho que a felicidade tem uma natureza mais fraternal,
Como os micos-leões dourado
A felicidade precisa nos fazer lúdicos como as araras.
Já pensou, se ela pousa nas mãos de um sortudo em forma de garça? A felicidade estaria então nas mãos de muitas pessoas

Muita gente devia ser feliz nesse planeta.
Mas encontrar a felicidade parece ser uma idiossincrasia.
As pessoas verdes temem serem "a presa" da felicidade.
O impacto de suas mandíbulas carnívoras assusta.
As pessoas maduras lamentam por não terem se permitido mais,
E vivem a triste culpa de confundirem amor com prisão e trocado a felicidade pela solidão.

Sorrisos simbólicos e prazeres imediatos.
Abismos, Ilusões, prisões pessoais, carências, insônias...
Quero tirar do meu corpo e alma estas tatuagens
Em troca da mordida da felicidade
Pois ser feliz não tem o custo de uma cédula
E se fosse, seria um beija-flor
É muito barato e pode até ser pago com um beijo!
Corra felicidade, venha feroz com sua mordida!


Anônima, Café e Melodia

Extraído e adaptado da minha crônica de mesmo título
Por Jefferson Cruz

                             

Quando parei na sinaleira
Ela atravessou a rua
Pude senti-la atravessando verticalmente minha garganta
Descendo com minha saliva.
Eu precisava salvá-la de um possível afogamento
“Estranho Esgotamento”.
Poesia, música e danças emolduram seu jeito de andar
Uma obra artística...
Eu estava esgotado de circular de rua em rua
Na esperança de encontrá-la novamente.
Enfim, encontrei-a no cartaz do teatro
“Estranha coincidência”.
Ela apareceu divina num vestido florido,
Deslumbrando os mercenários
Com pernas e braços nus, esmalte vermelho, batom...
Ela se enfeitava no espelho do cenário.
Minha atenção a ela se convergia
E somente aquela deusa era o meu foco ritualístico.
Corria o tempo em fast motion
Meu peito invadido de uma intenção de cortejá-la,
Mais tarde, fui tomar um licor caribenho no bar ao lado
Quando ela entrou e pediu café.
– “Dois dedos, por favor. Bem quentinho!”
– disse com um sorriso mágico.
Espantei-me, e me senti borbulhando
Dentro de sua xícara quentinha esfumaçando o desejo
“Mulata, cor de café, eu também quero dois dedos” – pensei
Fizemos um passeio que chegou até a porta do meu apartamento
A porta... O trinco... O arco... A flecha... Os olhos... Os braços... Mãos... Cintura... Um laço... Os lábios... O calor... É amor?... A cama... Estávamos zens em zoom - in e zoom - out.
Uma sinuosa trama de entregas... Suspiros! É festa!... O zíper... Encosta. O peito... Respeito?... Carinho... Os lençóis... Um nó... Pernas e braços nus... Pão-Francês... Garganta... Leite... Pescoço... Lingerie... Os beijos... Uma cena... Incenso... No quarto... Alfazema e também um perfume de rosas... Pecado nos quadris... Linda melodia!

Coreografias e Melodias

Por Jefferson Cruz



Eram melodias de maestro, sem ensaio, sem platéia.
Eram as linhas implícitas dos nossos olhares.
Tension-release, intensidade, carnudos lábios. Negrume.
`Contratempos`, cama, lençóis amarrotados de amor
Tombes, cabriolés, mise-en-scenes calorosos.
Bailamos suados em pas-de-deux.
Empinadas... Rebeldias... Simetria de pernas
Formas geométricas e partituras
Ela sem collant, colando-se mim
... Sapateado... Fox Trot... Duelos... Alma... Corpo...
Cansaço... O sono... Madrugada...

O despertar

Levantei-me com passos intrépidos até a cozinha.
Som BG da porta.
Ela partiu com um zoom-out seco e amargo!
Velas e terços... Lenço e patuá...
Incenso e chamas no meu travesseiro...
Taças quebradas próximo à cama...
Sangue no meu pé direito...
De volta às melodias envenenadas

O Fenômeno da Magia


Por Jefferson Cruz

Nada disso é causalidade...
A formação orgânica de cada célula que compõe o meu todo.
Cada elemento do meu corpo que é uma só unidade,
Que mesmo num recorte ainda seria o meu todo genético.

Nada disso é causalidade...
Esse ar que varre a poeira, as folhagens,
Que entra pela minha janela, derruba os folhetins,
Apaga as velas e alastra o fogo nas folhas secas,
Que também é aspirado pelas minhas narinas,
E que é combustível da vida.

Nada disso foi causalidade...
O primeiro minuto indivisível de tempo
Em que sua natureza humana se prostrou em fronte à minha,
As idéias se plasmaram no ar convergindo em linguagens subliminares através de gestos e olhares,
Conformados numa influência chamada de impulso vital,
Que nos fez selar os lábios.

A causalidade é um mero instrumento a serviço de potências invisíveis porque não nos acostumamos a sair da esfera dos fatos verificáveis para a esfera primitiva e desconstruída dos parâmetros da convenção social. A lógica é a Magia!

Não é causalidade...
O semelhante evoca o semelhante
E o possui num simples contato de pele e visão
Nesse ato indivisível do tempo os fenômenos acontecem.

Não é causalidade...
Que eu aceito a magia do que vem em segundo lugar - O alguém, o lar e o luar; o melhor do que há por traz do que enxergamos; e as coisas como elas vêm.

Aceito você com toda a sua magia!



Amor para Animar Matérias (We are FuckMuchines)

Por Jefferson Cruz



Paixões passageiras causam uma morte lenta e letal
Sinto calafrios só de imaginar ser capturado pela paixão
A paixão passa depressa como areia corre das mãos

E sempre que caímos com cada paixão escorrida
Novamente estamos de pé para novas paixões
São dores acumulativas o despedir de cada paixão turística

Uma vez morto nunca mais nos permitiríamos amar e ser amados
Só aos nobres corajosos cabem essas façanhas da sorte
A esperança de encontrar “o alguém” só aumenta as expectativas
Quando sabemos perfeitamente que as pessoas temem em expressarem-se
Estão todos cheios de amarras no peito
Uma violência estúpida que as pessoas travam contra si
E encontram nos prazeres imediatos uma distração confundida com liberdade
De repente a liberdade parece estar hibernada numa felicidade inventada
Castigada de gozos elétricos porque “We are Fuckmuchines”
Parecem mendingar por beijos e trepadas que quanto mais mecânicas melhor é
Puras recriações do que acontece nos filmes pornográficos


A indústria da pornografia realmente transformou algo íntimo em um processo comercial
E as fadas (para não dizer “fodas”) suprindo o tédio e a carência.
É tudo um carnaval de alegrias que vem e que passam
É tudo uma grande orgia social
Every time someone younger than me says “Fuck”

Já cheguei a acreditar que o sexo fosse uma mistura homogênea não destilável
Um castigo de impurezas perdoado pelo amor transbordando no suor
Estou num estrada sem volante e sem freios
Enxugando o rastro da chuva no pára-brisas
Fugindo de possíveis paixões, padecendo de covardia
E com uma vontade de me arriscar em alta velocidade
De ser imprudente!
Estou vivendo tudo pela metade em detrimento de não ter a outra parte de mim
Que liberdade é essa que escolhi para mim?
Liberdade confundida com felicidade


Que mal há em dizer coisas vãs respeitando os impulsos e soluços do coração
Que mal há em ouvir “Venha me ver, Quero você...”
Que mal há mandar uma mensagem digital, ou encher a caixa de entrada de palavras apaixonadas
Bem, eu adoraria ser mesmo próprio leviatã e não sofrer mais com esses silêncios
Puro orgulho! Tolice! Covardia!
Falta mais nostalgia no espírito!
Meu propósito na terra é sentir e ousar
Posso ser sincero?!
- Eu quero morder o fruto da sua boca!
Mergulhar num profundo esgotamento do seu corpo!
Banhar-me no Oasis escondido em algum canto do seu olho
E morrer abraçado em você num sexo transcendental
E renascer a cada dia ao seu lado com forças renovadas
Quero que meus átomos se aliem aos seus átomos 

E que dentro de nós sejamos poeiras no espaço
Diante de um universo de paixão maior que nós
Quero que sejamos mais que um simples choque
Quero a revolução no encontro de nossos olhares
Como o impacto que gerou o mundo
Quero rebeldia
Ebulição
Quero animar matérias!


Uma luz

versão II
Por Jefferson Cruz
Foto ilustração


Luz no meu corpo!
Preciso de luz para escrever essa poesia
Preciso de uma iluminação ambiente
Filtrando cada camada do meu epitélio
Quero uma luz débil, calorosa, cheia de vivacidade
Uma luz que não produz sombras
Luz forte, econômica, fluorescente...
Preciso de uma luz assim ó... Cinema!

Luzes, câmera, ação!



Luz que ultrapassa paredes, esponjas e arrebatadores
Luz mágica, mitológica, mística
Que recria a sensação de congelamento, dispersão...
Luz da noite, luz do dia, e luz de um olhar
Que faz evaporar minhas lágrimas
De efeito 3D? De infinitos D’s, pode ser?!
Luz que registra cada momento como um flash eficaz
Luz que rompe as leis da física
Luz que me envolve num campo eletromagnético
Formando um invólucro por dentro e por fora de mim
Revestindo o meu coração, pulmão e cérebro
Luz que é minha armadura e meu escudo
Que estimula minhas células fotossensíveis
Luz que é minha visão, minha lente, meu prisma
Luz que chamam de fé, milagre, saída, passagem

Vida!
Simples luz...
Luz!
Luz?
Ué, apagou?



Avenida dos Quinhentos Navegantes 

Por Jefferson Cruz

Eu mergulhei nos poços de várias pessoas e havia felicidade lá
Eu andei sobre a avenida dos quinhentos navegantes
Um mar de gente furiosa e agitada
Euforias, ritmos e percussões aleatórias
Eu mergulhei nesse oceano complexo

São oceanos metafóricos dentro de cada um de nós
Somente lá se encontram ribeirões de felicidade
Precisa dar um salto confiante para esse mergulho
Como fazem os moleques nos altos rochedos
O impacto é forte, mas libertador!

... Prisões pessoais, catastróficas e desequilibradas
Quando saltamos e navegamos em nosso próprio oceano
Descobrimos avenidas antes nunca visitadas por nós
Esta é a Avenida dos Quinhentos
Poucos são os corajosos
Depois do mergulho, o corpo emerge das profundezas
Vê-se mais claramente o brilho do sol
A mente é o barco, as atitudes o leme e a alma o oceano!

Não se lamente por não conhecer seu oásis
Apenas mergulhe por endereços privados onde sua felicidade o espera
A felicidade é tão sua quanto imagina
É tão real quanto se pensa que sonha acordado
Mergulhe... Habite nos recantos do seu interior onde a presença da felicidade reside de verdade!

Com ou Sem emoção?

 Por Jefferson Cruz



Davi girou a pedra... Girou... Girou...
E antes de acertar o gigante, perguntou-lhe:
- Com ou sem emoção?
O gigante respondeu-o:
- Atire logo essa pedra!

A multidão após arrastar a mulher pecadora pela Galileia
Cuspiram denuncias sob ela e escolheram no chão
A pedra mais pontuda e lhes perguntaram:
- Com ou sem emoção?
A mulher respondeu-lhes:
- Atire logo essa pedra!

Você apareceu como que nada busca
E resolveu arriscar um pouco e nada mais
Parece querer ficar e não fica
Parece querer ir, mas não vai
Então me pergunta:
- Com ou sem emoção?


Poema das metades

Por Jefferson Cruz





Você - A outra metade de mim - que me trazia alegria

Agora é metade de outra que me traz inveja e agonia
E a metade que era eu virou silêncio
Por me acostumar em sua metade,
Metade de mim quase morre.
Tive que abandonar a sua metade ainda tão morna e modesta
Em minha vida que um dia foi inteira.

Juntei os farrapos de memórias.
Alinhavei, costurei e transformei tudo em ponto cruz
Feri o dedo que manchou a manto de retalhos
Costurei tudo, cobri-me do manto, e parti em busca de uma nova metade.

Se a outra metade que foi embora com outra metade
Não tivesse deixado a mim pela metade
Agora não estaria sozinho
Pois soube que foi deixado pela outra metade
Tudo poderia ser diferente e não estaríamos os dois pela metade.
Nem esse poema seria o das metades! 


Vamos dar um tempo?

Por Jefferson  Cruz







“Vamos dar um tempo?” - disse-me após uma discussão inútil e saiu.

Não deu tempo para cuspir de volta o resto do seu beijo. Nem tempo de retocar a maquiagem borrada. Sinto ter perdido o meu tempo com a farsa desse relacionamento com a qual ele levava como um endosso. Assim ele mastigava o malfeito debaixo dos meus olhos freados de estupidez. E agora ele mesmo fez o trabalho sujo de empurrar a bagunça pra debaixo do tapete.

“Quero você o tempo todo!” – dizia-me com intensidade.

Nem parecia que tivesse ouvido essas palavras há pouco tempo tamanha contradição. Acho que me teve tão freneticamente que o tempo expirou.

“E o tempo nunca chegava” – Eu reclamava.

As semanas passaram fluidamente despercebidas e as madrugadas incompreendidas, e mais nada rendia senão a espera pelo tempo prometido. Pensei em subordinar o tempo, mas sua função é bem paga: atrasar, apressar e interromper.

“Quero um tempo!” – Desejei.

 Sem pedir licença, vou aproveitar que não tenho mais o tempo para me impedir de sair atrasada, sem hora marcada, sem compromissos e tomar umas tequilas numa balada. Ah, quero blackouts na memória. Quero fazer um escarcéu e expulsar o infeliz de mim com um grito de liberdade. Estou cheia de vaidade!

- Pode chegar tempo com uma profunda ressaca que eu já apaguei.

Coisa de Carnaval


* Inspirado na minha crônica "Cédulas, Amores e Abísmos"


Meia volta olhinhos de gude
Preste bem atenção
Foi através da minha oração
Engendrada aqui dentro
Desse meu coração vazio
Foi com essa oração
Pronunciada em alta voz
Em meio àquele carnaval
Onde nos conhecemos e nos perdemos de vista
Foi através dessa oração
Que acreditei com a força pelo qual as pessoas gritavam
- É CARNAVAL
Foi com essa oração de esperança em rever-te
Em desprezo à toda alegria ao redor
Foi essa oração que me manteve obstinado
Em achar-te em meio à massa de foliões
Oração que derrubou as muralhas do meu orgulho
Do qual pude varrer toda a avenida com os olhos
Enxergando através das pessoas
E incansavelmente procurar-te
Foi essa oração que guiou seus passos
Intrépidos de quem o álcool estava quase no domínio
Foi essa oração que nos reuniu e pude confirmar
Logo no primeiro beijo que “É paixão”
Mas veja bem olhos de gude...
Pare de deixar um aberto e outro fechado
Fazendo esse biquinho de papagaio danado
Conheço bem esse sorrido sádico e safado
Procurando me distrair com seu jeito engraçado
Mordendo os lábios, me convidando ao perigo
Para que eu caio de vez no abismo dos seus encantos
Pare! Tem amarras no seu coração que tirado à pressas
Causaria dores irreparáveis!
O teu peito respira uma liberdade inventada de prazeres
Então olhinhos de gude
Não me encante
Não comece o que não pode continuar
Vou agora fazer outra oração que é para te afastar!
Vou pedir que água transcorra no meu peito oco e vazio
Transbordando de mim todo o seu encantamento
Que me causou arrepio
E tudo vai ser transbordado pelos meus olhos
E vai se embora rio abaixo carregando-lhe na correnteza
E vai se embora, vá depressa que já vem a doce lembrança
De um Carnaval que um dia quem sabe
Iremos pular!

 Crayons (Primeiras Poesias)

Por Jefferson Cruz


Ah, saudade que dá do tempo de escola...
Eu cá da janela imaginando com meu caderno e lápis
Lembrando dos primeiros poemas escritos no quadro-negro
Os primeiros passos da alfabetização das poesias
Os primeiros ensaios de declamação para a sala de aula vazia
Os crayons coloridos destacando a poesia
Entre hieróglifos marcados nas paredes e carteiras
Passava horas lendo cada rabisco dos colegas
Os primeiros indícios da minha curiosidade social
As paredes eram o espelho confessionário de cada um
A necessidade vital de expressar e relatar
Ainda sinto-me naquela sala de aula
Com as expectativas de novas lições e constantes testes
Simulados relâmpagos, conceitos, anotações,
E paredes rabiscadas de crayons
Ah, saudade que dá do tempo de escola...
Saudade dos passeios no barquinho de papel
Saudade dos crayons!




Silêncio Mundo

Por Jefferson Cruz






O mundo é poeticamente correto
Tudo o que há de bom e ruim
Cabe em qualquer obra artística
Seja alegria ou tristeza
Cai bem numa poesia

Mundo barulhento, orquestra sem fim
Há quem diz que vai acabar um dia
Não acredito que se acabe sem finalizar uma obra equilibrada
Acho que é só um ensaio com músicos pra todo lado
Cada canto produzindo um som desigual

São tantos talentos por aí desperdiçados
Uns trazendo dramas, outros piadas
Esse mundo abençoado está do lado contrário
Até hoje não explicou de qual princípio surgiu
E ainda tormenta tantos filhos bastardos

Ô mundo sem jeito, que não respeita nem a liberdade
Pra tudo criou uma prisão, pra todos terem um pouco de ocupação
Tentando se resolver de alguma forma a própria equação
Se medindo na vida, enquanto a morte os espreita.

Mundo, onde está a educação? De onde virá a paz?
Cadê para aquele moço lá na calçada a segurança e o lar?
Cadê pra mim, a felicidade e as mil maravilhas prometidas?
A verdade, mundo... Na verdade, cadê nosso mundo?

Mundo faz assim ó...
Pára só um pouquinho o ensaio dessa orquestra.
Afina esses instrumentos, dê um jeito nesse coro desorganizado


Santa Chuva

Por Jefferson Cruz
Vi por aqui passar uma grande tempestade
Começou com jorros de alegria
Num belo dia nublado de outono
Em pouco tempo, a terra já não se agüentava
De alegria se fazia também tristeza
Assim como os belos dias de amor
Até que o tempo comece a destruir tudo
É assim, irreversível mudança climática
Cada dia santa chuva aqui rendia
O teto então rompia
E rompia também o que por uns se prometia
O chão molhado de amor, jaz fonte de lágrimas se fazia
Como um dilúvio, tudo foi carregado, rua abaixo.
Até mesmo as boas memórias são arrastadas
O medo de outra tempestade é o que resta
Tende piedade, tende piedade da minha alma
Que não quero vê-la banhada outra vez desta santa chuva.


O Seu Olhar

Por Jefferson Cruz

Te vejo despojado debaixo desse teto
E contemplando a luz que visita-o pela greta da janela
Te vejo andando descalço na rocha pôlida do banheiro
Sob a cascata do chuveiro
E lá fora as nuvens derramam lágrimas no asfalto
Te vejo deitado o dia inteiro revirando o corpo pra lua
Que reflete no oceano formando um véu encantado que você só conhece pela TV.
Pode-se também escolher uma grama macia, uma rede sob uma árvore ao entardecer
Te vejo tão pouco que quase ninguém saberá de ti
Se acaso vives ou se acaso finges viver
Se o seu entorno é somente concreto, cimento e gesso
Ou se há a distração das vistas em overdose de imagem
Se acaso vives, deixe pistas...
Rabisque o que sabe do mundo...o que conhece de você mesmo diante do outro.
Esse mundo resumido que conheces através da janela virtual
Ainda tem o tato, ainda pode em tudo tocar
Ainda pode derrubar esse teto e o céu explorar
Você ainda é o tal que vive o seu próprio olhar

Quando te escondes

Por Jefferson Cruz



Por mais que as tuas cartas eu devolva
Estou vuneravelmente envolvido
Como uma música esquecida pelo tempo
Que surge inesperadamente para re-expressar
Da mesma forma que antes sentiamos
A sensação transcorre os espaços vagos que dividiamos
E como um exército invade os territórios da memória
E como uma doce luxúria fingida o agradável se re-estabelece
Domina minhas nações
Converte minha noção
Desarma minhas células
Amolece meu corpo de vã esperas
E quando vejo, estou de volta à janela
Admirando tenazmente a natureza com um olhar vistoso
O som do vento enobrece as estruturas de uma ruína
Preenchida de uma luz irradiante de perfeito astral
E as paredes antes caídas e envelhecidas de rancor
Tijolo por tijolo alicerça uma paixão antiga
Mas num estralar de dedos, a música acaba
E abandona toda a lembrança inevitável
De como foi majestoso sentir você
E de como é ainda mais magnifico
Quando se escondes na saudade

A Lenda

Por Jefferson Cruz

Reza a lenda que o ser humano sabe viver em sociedade, e desde que aprendeu a comunicar-se, foi abençoado por técnicas que segregariam a melhor convivência e desenvolvimento das relações humanas. Silenciosamente a lenda é desmistificada quando deparada com a realidade do mundo. De fato, é uma aldeia global, de muitas tribos, de diminuição das fronteiras da informação. Uma aldeia na mensura de um planeta.

Por sorte ou azar, estamos endereçados nesse mundo, e querendo ou não rupturas sociais nos envergonham em face a idealizações que asseveramos vilmente que mudariamos a realidade refletida em processos hegemônicos de confrontos sociais, politicos, relgiosos e culturais. O homem dedica mais tempo com a morte dos seus principios que a vitalização da lenda que se concebeu em suas ancestralidades. A derrota do amor e da paz mundial é rogada por nós pecadores como prova da nossa ignorância.

Temos uma meta de construir a melhoria dos relacionamentos, e não o isolamento. Muitas vezes sublinhamos como paz a eliminação da presença de quem nos oprime, do que nos provoca e de quem nos inveja. É uma meta incrivelmente simples, que depende apenas da resignação da ignorância humana de pensar apenas no próprio nariz.
Enquanto que substanciados nas metas universais, há pequenas e inúmeras ações que deviamos desempenhar a cada instante da nossa vida, contribuindo para a solidificação do amor. Se soubessemos diluidamente cada segundo de estar sozinhos, saberiamos valorizar melhor a presença do outro. Estamos no escuro, descumprindo promessas, errando os caminhos, contemplando as individualidades, rompendo com os principios e preceitos do amor.

Quantas vezes a cegueira ou miopia da consciência nos fez desmoralizar a alma? Corrompendo-se na entrega dos seus valores essências por uma troca simples e diversificada de prazer, seja pela vaidade e ganância, ou pela obsessão de saciar a carne. Precisamos nos refazer e fazer valer a lenda.



A Lenda

versão mais simples
Por Jefferson Cruz



Reza a lenda que o ser humano sabe viver
Silenciosamente a lenda é desmistificada
Nossa aldeia global está em extinção
As fronteiras da informação cada vez menores
As fronteiras entre as pessoas cada vez maiores
O homem tem dedicado mais tempo à ignorância.
Temos uma meta: Não pensar apenas no próprio nariz
Se soubéssemos diluidamente
Cada segundo do que é estar sozinho,
Saberíamos valorizar melhor a presença do outro.
Precisamos nos refazer e fazer valer a lenda

A Volante

Por Jefferson Cruz

Colocaram-me a volante, no controle do meu arbítrio
Devo me dirigir nas vias da conduta e bater o carro na censura.
Voar para sentir-se livre e cair desenfreado
Ultrapassar cada obstáculo e avançar os sinais vermelhos.
Enfrentar tempestades, buracos, nuvens e pedras no asfalto
Fazer o possível para chegar em algum lugar

Em busca de portos marítimos, aéreo e rodoviário...
E sempre preparado para os constantes embarques e desembarques.
Entre tantos faróis, comandos, e semáforos.
Às vezes perdendo as rotas, e desconhecendo o chão que me sustenta

Não estou tão seguro de mim
Vou sair atrasado, vou correr contra o tempo
Perder a direção, manobrar na contramão
E vou cantando pela estrada, guiando-me sem volante
E enxugando o rastro da chuva no pára-brisa...
Sem medo, vou sem freios na rodagem.

Adoro-te

Por Jefferson Cruz



Adoro sua inconstância
Suas peraltices de menino desatinado.
E quando você está ligado
E quando se desliga.

Quando parte não leva nada de mim
E quando volta traz tudo o que preciso
Rouba-me as verdades e me compra com as mentiras

Adoro seu vendaval
Quando me arrasa por dentro
E consome minhas horas
Derrota minha paciência
Me esgota em lágrimas
Esvanece meu tempo

Adoro-te...

Como uma flor no jarro
Água na chaleira
O verbo ainda não conjugado
O dia que ainda não nasceu

Adoro sua ausência nos lugares que ando
E ainda assim, sua presença em mim
Onde o tenho de verdade como minha propriedade

Adoro como faz comigo e com as outras
Quando busco por você nas bocas sedentas
Somente adoro em palavras desmedidas
Em suspiros altos, que acordam as paredes da casa
Adoro-te em pensamentos e cegueiras





Alma e Flores, Corpo e Bosques

Por Jefferson Cruz

Minha alma se deleita no berço dos amores
E meu corpo caminha por bosques encantados
Mas estão fazendo de mim um inventário
O que estão dizendo sobre mim é o contrário

Eu quis me contrapor, eu pensei em me impor
Eu reneguei, eu revoguei propostas de amor
Meu autocontrole desprogramado.
Sou agora um protagonista deste documentário

Minha vida documentada
Meus sonhos redirecionados
Eu queria flores todos os dias na minha cama
Eu queria ainda os verdes bosques nessa trama

E o mundo, com sua beleza mórbida
Foi tomando de mim os contos de fadas
E o mundo, com sua arte surreal
Foi dizendo que o amor não é real

E onde estou afinal?
Em que mundo ficou os meus sonhos?
Em que pomar se escondeu minha amada?
Em que bosque se isolou a minha alma?

Meu amor não é um evento fútil
Em que se repetem beijos e declarações emocionantes.
Nem é uma fase relâmpago de cenas novas
Meu amor não é fábrica de futuras amantes.

Não estou contracenando Shakespeare
Minha alma não quer um amor que acredita no próprio fim.
Alma está para flores
Meu corpo está para os bosques

Arquivo Inativo

Por Jefferson Cruz

De volta ao meu sistema operacional
De volta aos meus planos, ao meu radical
Meus arquivos de origem, meus megas
Meus discos rígidos todos formatados

Estou novamente zerado, novo de fábrica
Pronto para outras convenções
Instalando modernos aplicativos

Minha mente é ciberespaço
Meu corpo é um maquinário siliconado
Cada ar que respiro é um byte estocado
Meu sexo é um programa de simulação virtual
Meu suor é lítio e minha inteligência é digital

Tenho de tudo nessa nova base sistemática
De tudo posso nessa fase tecnológica
Tenho de todos os recursos do poder humano

Sou ISO. Só me falta ligar alguns dispositivos
Só me falta ligar o amor
Que até então, é arquivo inativo.

Homem, Decadência, Evolução

Por Jefferson Cruz
O homem descobriu a comunicação e fez a linguagem
A linguagem é ferramenta ideológica e com ela faz-se guerra
O homem foi coroado com o poder da escolha
A escolha levou o homem à vergonha do pecado
O homem inventou a justiça
A justiça libertou Barrabás
O homem institui as religiões
A religião condenou a revolucionária Joana D’Arc.
O homem, para entender o universo, desenvolveu a ciência
A ciência foi o calvário de Giordiano que defendia Copérnico.
O homem categorizou os povos por raça
A raça é a diferença recusada, por isto morreram revolucionários
O homem estudou a fé e formou uma doutrina
A doutrina castigou os índios e roubou-lhes as crenças
O homem em fuga de tanta atrocidade adoeceu de esquecimento

Zumbi dos Palmares no tronco
Martin Luther King caído no chão
Tiradentes na forca
Chico Mendes perdeu a força
Homens de justiça e verdade
Gandhi gritava por liberdade

As vítimas da candelária...
Os fuzilados...
As caras pintadas...
O dinheiro público...
O menor abandonado...
As esquinas e os desempregados...

Há mais dureza que Pol Pot
Há mais desumanos que Adolf Hitler
Há mais ganância que Mussolini, Lênin, Stálin
Há mais George W. Bush

O inimigo está na própria pátria
Nossos heróis estão se vendendo por algumas pratas
Os sonhos prostituidos...Natureza Humana... Perfeita contradição!
Homem... Decadência... Evolução!



Homem, Decadência, Evolução

versão  II
Por Jefferson Cruz



O homem descobriu a comunicação e fez a linguagem
A linguagem é ferramenta ideológica e com ela faz-se guerra
O homem foi coroado com o poder da escolha
A escolha levou o homem à vergonha do pecado
O homem inventou a justiça
A justiça libertou Barrabás
O homem institui as religiões
A religião condenou a revolucionária Joana D’Arc.
O homem, para entender o universo, desenvolveu a ciência
A ciência foi o calvário de Giordiano que defendia Copérnico.
O homem categorizou os povos por raça
A raça é a diferença recusada, por isto morreram revolucionários
O homem estudou a fé e formou uma doutrina
A doutrina castigou os índios e roubou-lhes as crenças
O homem em fuga de tanta atrocidade adoeceu de esquecimento
Natureza Humana... Perfeita contradição!
O Homem está na Decadência, e não na Evolução!



Sabedoria do Existir (Juventude)

Por Jefferson Cruz


Não espere envelhecer para conhecer a sabedoria do existir
Não espere as rugas para reconhecer sua beleza
Não crucifique tuas falhas, retraindo novas tentativas
Não basta apenas viver e esperar pelos acontecimentos

Você pode criar as suas próprias situações no tempo
A vida não é uma narrativa categorizada por capítulos
O ontem não precisa necessariamente repetir-se hoje
Cada dia você exerce os seus poderes

Quando se está triste você pode cantar
Quando se está monótono pode-se também dançar
Quando se tem medo de alguma coisa, é válido enfrentar
Quando o tempo é curto você pode ao menos sorrir

Esteja próximo de quem você ama
E se não estiver perto, mande cartas de amor
Há muito tempo não enviamos cartas com nossa própria letra
Depois que aprendemos a digitá-las

Se não sabe fazer um belo poema, conte então uma piada
Se não sabe desenhar, ao menos rabisque
Se não tem idéia do que fazer pra se divertir, viaje
Se não acostumou-se com o escuro, oriente-se pelo tato

Rime
Dramatize
Pinte
Estique-se

Antes de dormir, ore
Antes de vencer, agradeça
Antes de fazer sexo, use camisinha
Antes de fazer um filho, cresça

Após as refeições escove os dentes
Após olhar nos olhos diga a verdade
Após beijar, ensine ou aprenda a namorar
Após uma mentira insignificante, perdoe

Beije
Ame
Namore
Case

Para cada lágrima um abraço
Para cada abraço, energia
Em cada energia, retribuição
Em retribuição basta carinho

Chore
Perdoe
Erre
Tente

No lugar de palavrões, uma rima
No lugar da maldade e vingança, oração
No lugar da fraqueza, coragem
No lugar do sedentarismo, exercício físico

Descanse, ninguém é de ferro!
Arrisque-se, já que não tem certeza!
Acredite, só você conhece a própria capacidade!
Sonhe, não há mal acordar na mesma realidade!

Grite, num lugar que tenha algum eco
Registre, para evocar esse momento no futuro
Mergulhe, é uma sensação de estar noutro mundo
Voe, afinal de olhos fechados tudo se pode imaginar

Brinque, do mesmo jeito que fazia quando criança
Para matar a saudade, relembre
Pule o mais alto que conseguir alcançar
Se jogue no que você deseja, mas cuidado para não se machucar

Invente
Observe
Medite
Estude

Preste atenção nos conselhos
Escolha direito para não se arrepender depois
Se fez a escolha errada, concerte
Não consegue dizer com palavras, use os gestos

A juventude não tem idade
O envelhecimento é atemporal
Contemple a vida o quanto pode
Não se lamente pelo o que não fez no final



Minha Nudez

Por Jefferson Cruz
Nas manhãs e nas madrugadas
Meu corpo se ilumina e se apaga
Veste-se de purezas e pecado
Lembranças da noite passada

Da noite no cais e os cortejos do luar
Dos carnavais de cada noite serena
Das minhas caçadas noturnas por uma graça
Por uma troca de prazer de graça

Começo a nudez já no olhar
Sem mascaras à minha frente a me vestir
Despido da inocência é réu confesso
Meu corpo corre campos de batalhas

Meu querer e o meu fazer
Banha-se nas ribeiras, brinca de se molhar no outro
De fazer festa! De fazer euforia! De fazer navegações
É um oceano imenso que nunca adormece.

Corpo, traços e desejos
Impetuosamente destemido de pecados
Sacia fome e sede, agita e esgota
Corpo, benção, pulso, nudez premeditada

Douradinho Meia-Dia

Por Jefferson Cruz

Quando você tirar a venda
Não vai querer me vender pra ninguém
Vai me levar pro escurinho
Amor, um cineminha cai bem

Quando você visitar minha casa
Não vai querer outro caso com alguém
Vai me comprar pela boca
Amor, uma cervejinha cai bem

Se me arrastar para a cama
Prometo que não faço um drama
Se pensar que eu caí no seu papo
Amor, aí que você se engana

Quando você toca um pandeiro
Arrepia meu corpo inteiro
E quando amarra meu nome num verso
Declaro esse amor para o universo

Irá se importar quando eu escrever uma modinha
Irá se incomodar quando eu papear sobre você pra vizinha
Irá se irritar quando o feijão pegar na panela
Irá me amar mais, se eu deixar no teu corpo aroma de canela?

Cai bem te fazer subir pelas paredes
Pra concertar as goteiras do assoalho
Cai bem refogar você de óleo e alho
Pra te comer douradinho, ao meio-dia, bem temperado


Do Big-Bang ao Bang-Bang

Por Jefferson Cruz
O iluminismo das velas, terços e patuás.
Sinalizam a procissão se aproximando
Maquiagem natural de sofrimento no rosto
Vestígios de trabalho desenhados na mão

Mãos cravadas ao rosário
Acompanham o menino Jesus
Mãos firmes, no símbolo,
Carregam a cruz

Signos de morte na romaria
Existencial de vidas póstumas
Seguem em busca ritual
Da pós-fome, pós-sede, pós-carne, pós-alma.

Sagrada romaria de fé
Esse é o espírito tradicional
Enraizado no mundo materialístico
Onde o poder do homem robótico é mais holístico

Do big-bang ao bang-bang
Assistimos confortáveis no sofá
Homens compressos e miúdos
Em cenas esmiuçadas na TV

Guerreando por lucros entre as nações
Manifestando o luto nas emoções
E a luta de todos nós
Sobrevivendo à aventura lunática

Tomamos comprimidos
Para não regurgitar
Ingerimos toxinas de ganância e ódio
Injetamos venenos de prazer para no remediar

Respirar, voar, nos locomover...
São valores meramente convencionais
Estamos cada vez mais convencidos
Que a realidade de viver é consumir a vida

A propina empina o nariz e ensina
Que Deus é dinheiro no bolso
E muito dinheiro no bolso
É plástica no nariz

Assim, entramos numa cegueira coletiva.
Que nos impõem as imagens televisivas
Imaginem que ate mudo ficamos
Para não resmungar

Estamos regredindo ao tempo zero
Regularizando os parafusos industriais da cyberlogia
Se adaptando às condições
Da nova hipocondria social

Viva à antropofagia entre os homens cegos!
Viva ao homem entrando no pântano!
Viva as nossas prisões pessoais!
Viva cada vez mais aos carnavais!

Armaram um atentado para o amor
É o terrorismo entre os homens
Erguendo os muros altos de Berlim
E fazendo fronteiras pelas terras-do-sem-fim!

Solidificando-se...
Compressando-se...
Com pressa voltando à caverna
Escura e lodosa de Platão

Filas plantão nos hospitais
Para ver Madalenas apedrejadas
Para fotografar Joana D’Arc queimada
Rir do Judas condicionado à corda proposital

Estamos a um passo da cova
Covardes que somos,
Esquecemos Lutero
E pagamos indulgências pelo paraíso eterno

É que inventaram que existe
Imposto ate no céu
E o orçamento do purgatório
Parece estar em promoção

Que SUS-to! E vejo filas enormes
Parece o SUS!
Voltem depressa para a estrada
Certa e segura das romarias de JE-SUS!

Regozijem-se da herança prometida
Nas profecias de João
Porque o tempo... Ao contrario de Cazuza:
- O tempo pára!

Do Big-Bang ao Bang-Bang


O iluminismo das velas, terços e patuás.
Sinalizam a procissão se aproximando
Maquiagem natural de sofrimento no rosto
Vestígios de trabalho desenhados na mão

Mãos cravadas ao rosário
Acompanham o menino Jesus
Mãos firmes, no símbolo,
Carregam a cruz

Signos de morte na romaria
Existencial de vidas póstumas
Seguem em busca ritual
Da pós-fome, pós-sede, pós-carne, pós-alma.

Sagrada romaria de fé
Esse é o espírito tradicional
Enraizado no mundo materialístico
Onde o poder do homem robótico é mais holístico

Do big-bang ao bang-bang
Assistimos confortáveis no sofá
Homens guerreando por lucros entre as nações
Manifestando o luto nas emoções

Estamos a um passo da cova
Covardes que somos,
Esquecemos Lutero
E pagamos indulgências pelo paraíso eterno

É que inventaram que existe
Imposto ate no céu
E o orçamento do purgatório
Parece estar em promoção

Regozijem-se da herança prometida
Nas profecias de João
Porque a qualquer momento
Passaremos dessa aventura lunática como um bigbang-boom!

Cegos no pântano!
Por Jefferson  Cruz

Respirar, voar, nos locomover...
São valores meramente convencionais
Estamos cada vez mais convencidos
Que a realidade de viver é consumir a vida

A propina empina o nariz e ensina
Que Deus é dinheiro no bolso
E muito dinheiro no bolso
É plástica no nariz

Armaram um atentado para o amor
É o terrorismo entre os homens
Erguendo os muros altos de Berlim
E fazendo fronteiras pelas terras-do-sem-fim!

Filas de plantão nos hospitais
Para ver Madalenas apedrejadas
Para fotografar Joana D’Arc queimada
Rir do Judas condicionado à corda proposital

Viva à antropofagia entre os homens em suas prisões pessoais
Compressando-se com pressa de volta ao lamaçal
Viva a Platão e o mito da caverna escura e lodosa!
Viva aos homens lutando pela sobrevivência no pântano da cegueira!



Alto-Programada

Por Jefferson Cruz
Não sou alto-programada!

Lava, enxuga, dobra e passa
Escuta e obedece, executa e agrada

Não sou alto-programada!

Que empresta meu corpo à cama
Que empresta minha boca ao teu beijo
Nem que empresta minhas ancas ao teu deleite

Não sou alto-programada!

A qualquer momento posso precisar de gestos mais sensíveis
Um casamento não pode se limitar às tarefas domésticas
E a cama não pode se limitar ao descanso da carne

Não sou alto-programada!

Pelas manhãs, não basta dizer de longe, apressado – Tchau, te amo!
Quem disse que o maior compromisso é a casa?
Antes de lavar os pratos, o banheiro, as roupas...
A faxina começa com um beijo de sugar a alma.

Pois é, não sou alto-programada!

Amor Calculado

Por Jefferson Cruz


Aprendi nos tempos de escola
Que a matemática está presente em tudo na vida
Eu ainda não tinha conhecimento da tabuada
E ainda apanhava de palmatoria para aprender a raíz quadrada

Muito eu treinava de tanto teste mal feito
Pelo menos a matemática do amor não podía ter defeito
Levei os cálculos à risca e aprendi o amor nas sentenças
A matemática não falha, pois que tudo é equilibrado

Então amor, nao duvide de mim quando lhe dou essa flor
Reconheça meu cálculo e minha lógica matemática
Somos produtos notáveis apaixonados!
Uma relação de pertinência, eu sou teu, e você é meu. (Ponto)

Não há como fugir dessa condição.
É adição e não subtração! É uma relação de inclusão!
Formamos um conjunto de intersecção que não se divide em frações tolas!
Nosso amor é unidade de medidas, proporções de mesma massa na balança.

Multiplique o mínimo de aproximação comum entre nós
E teremos conquistado o máximo de amor nos resultados.
Somos sistemas de equações simultâneas.
Desenhando juntos planos cartesianos num feixe paralelo de pernas.

Que bela composição de ângulos! Que enquadramento mágico na cena!
Resolva as sentenças abertas com duas variáveis:
- Ou leva zero no meu teste de apaixonado... Ou se entrega à fórmula natural do amor!
Não trago nenhum castigo pela sua nota
Ainda apanho igualzinho como na escola
Pois ainda estou aprendendo as regras do amor calculado

Amor Introvertido

Por Jefferson Cruz



Fixamos o olhar e nossos disfarces se revelam. 
Está implícita a exaltação de ânimos 
Cada vez que nos encontramos
Nossas almas se amassam antes que o corpo confesse

Está claro que nos enamoramos escondidos
Numa intimidade em algum mundo paralelo
E não há resgate desse universo isolado
Intimados pelos julgamentos convencionados

Em plena modernidade, reside ainda o clero
E nossos sentimentos exilados dessa repressão
Cada sorriso nosso nos condena
Convivemos em cada suspiro etéreo
E nossas línguas se acariciam em ambientes esotéricos
E tudo se torna tão introspectivo
Um amor que se expressa cá dentro
Nesse peito envergonhado, achando que amar é pecado

Fixamos o olhar
É doçura
E habitamos num lugar
Onde se conservam o amor introvertido


Arrependimento Mata?


O teu “não” desencadeou meus passos amedrontados para o asfalto
Sem cuidado invadi o trânsito que parou contra meu delito.
Enfurecido, continuaram as pernas na desordem e no perigo
Desmontando-me entrei no meu carro.
Retrovisor quebrado.
Peguei a chave, sem controle, encarei o volante.

Não era dia chuvoso mais liguei o pára-brisa.
Não era noite, mas acionei os faróis.
Carro e lágrimas em alta velocidade
Não estava embriagado, mas via tudo girar.

O “não” martelava na cabeça e eu mastigava-o na boca.
Ele era o fonema, meu combustível infinito fugindo da garganta aos soluços.
Eu seguia somente a sinalização na pista
E uma idéia fixa de delinqüente, dirigindo na contramão.
Sem freios cruzando as esquinas e bairros sem nome.
E na curva à direita não enxerguei as placas
O susto!...Outro carro!... E meu grito desesperado:
- Não!

Esse foi o pesadelo de uma noite perturbada
Quando o teu não me pareceu uma faca afiada
Ao acordar assustado, estava você ainda ao meu lado
Dizendo-me um “Sim” atrasado, constrangido
Então veio na minha cabeça uma pergunta
Que só a mim fazia sentido:
- Arrependimento mata?







Amor Primitivo

Por Jefferson Cruz
Cuidado, sou homem da caverna
Sou de lá da pré-história
Só conheço o amor primitivo
Sou do tempo da pedra

Escrevo nosso nome com fogo
Feito escravo me entrego acorrentado
De geração por geração, de selva em selva
Desde ancestrais comuns, evoluirei ao teu lado

Sou um indelinquente apaixonado
Fugindo desse planeta modernizado
E por ti sempre desarmado
Nada mais tenho, que o amor primata

Não sou nenhum diplomata de terno, gravata e indecências
Estou por cima da pele viva, transcendendo a própria carne.
Explodindo de nostalgia, de essencialidade,
Recusando amores da artificialidade!

Não quero um amor de relicário
Desses que enfeitam cartas e porta-retratos
Quero o amor de Primitivos, quero falar essa linguagem!




Cinzeiro

Por Jefferson Cruz

Aqui, reduzido às cinzas do teu cigarro.
Produto das tuas chamas apagadas
Consumistes-me até os calos e valores
Sou metade do teu vício jogado fora
Sou as sobras e as sombras de cada hora

Aqui, essa labareda entreapagada
Que aspira pelo teu oxigênio para reacender
Mas é perigo que caias de novo no vicio
Mas consumir-me é tua função,
Venha cheio de voracidade e excitação.

Antes das cinzas eu sou o cinzeiro
Antes do cinzeiro eu sou o teu cigarro e fumaça esvaída
Antes da fumaça eu sou chumaço de fogo e faísca
Eu sou um amante que causa dependência química
Eu sou a própria química da tua vida absenteísta.

Foto Vinicius Neves(http://www.vestudio-portfolio.blogspot.com/)

Alice

Por Jefferson Cruz

Conheci Alice
Vou com Alice
Não volto com Alice
Na fantasia me jogo com Alice
Iludir-se por amor não é tolice

Aprendi nos tempos de meninice
É bom ter um amor que me enfeitice
Vou correr, pular e cair na sandice
Se amar é uma ilusão, uma ceguice
Prefiro ainda ser a própria ALICE!

Ambiente de Guerra

Por Jefferson Cruz

Nosso corpo é constante campo de batalha
Arcos, flechas, espadas e escudos.
Somos primatas prematuros incompletos e impuros
Medo, inocência, credulidade.
Tanto amor no peito acolhe também a maldade

Abraça-me com emergência
Venha para perturbar meu estado de sanidade
Enfrenta minha louca tempestade
Estou numa luta interna de querer você pela eternidade
Mas a ordem social indica que seja pela metade

Ambiente de guerra no peito caloroso
Cortes de beijos secos e tempestades vazias
Na garganta uma palavra morta
Assoalhos molhados, roupa macia, pele desidratada
Meus medos malcriados levam-me a sacristia

Que pena, tantos nomes perdidos na multidão
Nesse exército de fábulas nenhuma fada
Nenhuma paixão avassaladora
Somente a pacificação das vontades vestindo corpos esguios
Eu quero terrorismo de amor invadindo os meus territórios
Quero guerra do amor vencendo a minha carne!

Noites de Silêncios

Por Jefferson Cruz



Já denunciei o espelho
Que revive fantasmas
Já acusei as paredes
Que escondem o real de mim

Mas nunca me julguei
Bem ou mal, não pensei
Afinal a verdade do homem
Eu sei - "É a contradição!"

Já me fizeram marcas
Nenhuma delas sangraram
Já me machuquei com flores
Já repeti a dose...

Doze...Treze...Outra dose
E olha eu refletido ali no copo
O espelho me persegue
Eu persigo o espelho

Perseguições cegas, inúteis
Procuro o "eu" no outro
E só o encontro no silêncio
Nas noites nuas, paredes descoloridas e chão frio

Palavra Contaminação

Por Jefferson Cruz

Torpes e dilacerados mortais
É de morte, é de Guerra
Esse chão que tu pisa tem pedra suja de sangue
Tudo se enfeita e se modela de mentira
Tu mesmo se rompe e se refaz

Lamaçais e chuvas de vírus
Jorra pra todo lado veneno e perigo
Essa voz que tu ouve é um velho amigo
Olhos castigados de luxúrias
Corpo batizado de prazeres e lamúrias

Hoje é o dia de você olhar pro alto
Uma gota de sangue e aos poucos um choro cai do céu
Na sua fronte, nos seus lábios
Molhando seu corpo inteiro num velório de verdade
Não tem raios, terremotos, nada além de uma chuva

Chove verdades que você não conhecia
Chove verdades que você ignorava
Chove uma contaminação de verdades
Chove Palavra!
Chove Poesia!

Emparedado

Por Jefferson Cruz

De frente pra parede
Azulejos amarelados ajustados
E eu ajoelhado em penitência
O chão molhado de pecado

Do corpo escorre o suor pro piso esverdeado
Na ponta do nariz encontro-me com o limite
O muro na minha testa se faz de fronteira
Sinto um abraço desse muro de tinta azul e madeira

Uma força de cimento e areia envolvendo meu corpo
Aqui me conforto das convenções sociais
Dos desesperos e desilusões de cada dia
Esta casa, esta parede, este chão amigo... minha covardia

Emparedado caminho pelas ruas sem nome
Eu de frente pra porta fechada
Reflexo de um espelho no próprio espelho
Um rosto estranho desgastado, com fome

Lá fora uma euforia de futebol e carnaval

A janela aberta e eu preso no quarto
Sinto a culpa social imobilizar minha fuga
Aqui dentro um velório descomunal

A pia e a água no rosto desculpam-se por mim
Somente para amenizar os arrependimentos
Quanta história e progressos jogados pelo ralo
Sigo as sobras na correnteza da descarga, lindo estrago!

Esqueço as horas no silêncio desperdiçado
Lágrimas secas, vidro embaçado
A torneira pingando e o chuveiro ligado
A porta trancada por dentro e o choro bloqueado

Saliva entalada na garganta
Meu país, onde está a minha liberdade?
Santo Cristo Redentor, onde está a verdadeira verdade?
Meus pais, onde está a nossa felicidade?








Canção particular

Por Jefferson Cruz

Há uma canção que não requer músicos
Uma canção que só nós mesmos ouvimos
Uma melodia íntima e singela, silenciosamente nossa!
Vibrante e incrivelmente poderosa
A canção do nosso viver...
É uma canção que exige do silêncio e da concentração


Observe ao fechar os olhos,
O som da engrenagem do pensamento,
A respiração em forma de percussão em diferentes ritmos
Obedeça a ordem natural dessa canção
Uma cadência repetitiva incessante
Assustada... Serena... Contida...

Imagine por onde seus pés caminharam ontem
Imagine que os pés tivessem olhos de gato
Olhe à altura do chão cabisbaixo como um cão farejador
Explore a beleza de cada imagem minimalista
As poças d’água e os ruídos do cotidiano
Pois é, tudo o que está fora e dentro é a melodia do viver

Linda canção
Que estão destruindo com partituras esquisitas
Linda canção
Da pena de não mais ouvi-la


Uma luz

Por Jefferson Cruz
Foto ilustração


Preciso de luz
Para escrever essa poesia
Aqui dentro de mim está escuro
Não.. Não.. Muita luz ofusca
Não enxergo um palmo a minha frente
Parece aqueles efeitos cinematográficos clichês
Anunciando a chegada de um anjo, um E.T., uma fada..
Não...Não...Luz difusa também não...

Preciso de uma iluminação ambiente, bem próxima
Filtrando cada camada do meu epitélio
Quero uma luz que começa aqui de dentro, sabe?
E que todos possam enxerga-la
Quero uma luz débil, calorosa, cheia de vivacidade
Mas que saiba se conter em sua cinética

Uma luz que não produz sombras
E que as pessoas não precisem enrugar os olhos
Como fazem para enxergar o sol
Luz particular mesmo quando ilumina outros
Luz forte, econômica, fluorescente...
Preciso de uma luz assim ó... Cinema!

Luzes, câmera, ação!

Quero uma luz vibrante que brilhe o tempo todo
Porém não tão mecânica e criada, entende?...
Não refiro-me a novos efeitos de luz para cinema e televisão!
Não é ficção! É uma luz do tipo de semideuses!

Luz que ultrapassa paredes, esponjas e arrebatedores

Luz mágica, mitológica, mística
Que recria a sensação de congelamento, dispersão...
Que acelera o tempo ou deixa-o mais lento
Dia é noite, noite é dia, inverno é quente...

Luz que me desconstrói e que me aquece
Que faz evaporar minhas lágrimas
Luz que eu possa abraçar!
Luz que eu possa sentir como o toque de uma mão, um beijo...
Luz que não resseca a pele e não racha os lábios

De efeito 3D? De infinitos D’s, pode ser?!
Luz já focalizada, alto ajustável às minhas temperaturas
Luz que registra cada momento como um flash eficaz
Luz que rompe as leis da física
Luz que me envolve num campo eletromagnético
Formando um invólucro por dentro e por fora de mim
Revestindo o meu coração, pulmão e cérebro

Luz no meu corpo!

Luz que é minha armadura e meu escudo
Que estimula minhas células fotossensíveis
Luz que é minha visão, minha lente, meu prisma
Luz com o qual escrevo nossos nomes no escuro com um efeito de câmera
Luz que chamam de fé, milagre, aparição, saída, passagem
Luz que chamam de idéia, amor, felicidade


Vida!
Simples luz...
Luz!
Luz?
Ué, apagou?



Love is Business Baby


Por Jefferson Cruz



Surpreendente o espírito de empreendedorismo nas relações quase comerciais das paixões inventadas ou incrivelmente fantasias que se esgotam como encantamentos.
Começa com comprimir dos lábios entre os dentes, dos olhos esmagados entre as pálpebras entre abertas e o sorriso no canto da boca – tudo para causar uma única boa primeira impressão. Há uns protagonistas da vida real que molduram com riqueza de detalhes os minuciosos retoques de um amor meramente encenado. Isso é espetáculo!
Por aí afora há um coral de amores administrados como um processo transgênico, hipoteticamente naturais e verdadeiros que realidade pode ser confundida com ficção! É quase uma obra de perfeição. Um gesto de subversão, crueldade e criatividade o amor fingido e calculado. O discurso da mentira é muito bem delineado para sustentar as aparências. De fato o amor causa cegueira e o silêncio militante antagonicamente faz orquestra nas relações.
A verdade é estilhaçada e despedaçada fragmento por fragmento e misturada aos cacos teatrais da mentira. Bom, o resultado final é uma bebida doce e quente de estilhaçados. Minha garganta adoece de imediato com os cortes irreparáveis. Não há emplastos!
O doce vinho é servido em cerimônias honrosas da nossa carência ou da nossa dependência química do amor. E não me cabe mais a valentia de denuncias e isenções pois qualquer esforço seria tardio e desnecessário. Prefiro degustar do vinho e cair tonto na cama com as conseqüências do álcool diluído na minha corrente sanguínea. Se o amor é um ato inventado, quero então o melhor papel num belo espetáculo do imaginário. Viva os novos negócios do amor porque Love is business Baby!



Meu Corpo Fala

Por Jefferson Cruz



Vai me encarar?
Reaja aos meus beliscões na sua cintura
Se concentre nos meus olhares
Não pertencemos uma a outra, mas ando com os meus passos
Ando embutido nas suas sombras
Viver assim é bom, vê se entende, vê se me preenche
Não quero as horas vagas, eu quero os minutos inteiros meus…
Quero que esqueça o relógio, senão eu quebro os ponteiros.
Não quero um olhar ligeiro, de quem não me viu, de quem em mim nada viu
Quero tropeçar com esse embaraçoso olhar
Quero simplesmente perder o fôlego ao te beijar e te despir com a lingua
Quero chegar próximo como se fossemos imãs com os lados invertidos
Porque acho linda essa luta querer de tocar o mais intimo e a natureza não colaborar
Quero que me olhe com tanto desejo, que minha roupa escorrega devagar
Reaja! Estou aqui e meu corpo fala com você




Meu Corpo Fala

Por Jefferson Cruz

Vai me encarar?
Reaja aos meus beliscões na sua cintura
Se concentre nos meus olhares
Não pertencemos uma a outra, mas ando com os meus passos
Ando embutido nas suas sombras
Viver assim é bom, vê se entende, vê se me preenche
Não quero as horas vagas, eu quero os minutos inteiros meus…
Quero que esqueça o relógio, senão eu quebro os ponteiros.
Não quero um olhar ligeiro, de quem não me viu, de quem em mim nada viu
Quero tropeçar com esse embaraçoso olhar
Quero simplesmente perder o fôlego ao te beijar e te despir com a lingua
Quero chegar próximo como se fossemos imãs com os lados invertidos
Porque acho linda essa luta querer de tocar o mais intimo e a natureza não colaborar
Quero que me olhe com tanto desejo, que minha roupa escorrega devagar
Reaja! Estou aqui e meu corpo fala com você