segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Galeria de Arte



Por Jefferson Acácio




O céu e você são um retrato na minha memória
Uma pintura que suja minha camisa com gotas de tinta fresca
Você e a paisagem do cotidiano são uma bela criação das artes plásticas
Como um quadro vivo que se move formando novos desenhos
Estou a te contemplar como minha gravura figurativa e abstrata
Teu desenho remodela-se em meus pensamentos como rabiscos no papel
Teu corpo banha-se na paleta de cores e me seduz na tela em branco
Seu contraste nas superfícies  assume todas as texturas, tons e matizes
Expressionista! Aglutinante! Indivisível - minha obra de arte!
Meu corpo e alma são a tua galeria!

Poeta e Rotinas


Por Jefferson Acácio




A rotina me amansou em doses de tarefas operacionais
Eu vivo mais nos carnavais! Doces dias infernais!
Meu paletó sempre passado, minhas meias sempre suadas!
Vivo amassado nos braços da amada! Em teus seios eu suo mais!

Meus dias eram sempre samba, festa e orgia
Sai da boemia e cai na rotina!
Sai da bagunça e cai na faxina!
Sai da alegria, cai na melancolia!

Rotina cretina e traiçoeira
É como uma serpente astuta
Mata suas presas por constrição
Asfixia, imobiliza e engole

Nas páginas do meu diário
Quase morriam as poesias asfixiadas
Poucas linhas ainda havia,
Páginas de compromissos lotadas!

Em poucas linhas escrevi um verso
Desdenhando sobre o dia sistemático
E reconheço que quase seriam as árvores em vão sacrificadas
Por pouco não teriam gerado o fruto-poesia em suas páginas pálidas

Por pouco também eu se esquecia do escritor
De alma vagabunda de ócios e muito amor
Jaz varejista e não mais artista em ofício
Por pouco poderia a poesia abandoná-lo por completo

Mas a poesia não nos abandona
Faça chuva ou faça sol, ela se encaixa
Amo as mais vagabundas e honestas
Que chegam despidas e desprovidas de rotinas!

Córregos e fossas de minha natureza


Por Jefferson Acácio




Dentro de mim um mundo inabitado construído por ruas vazias sem nome
Córregos inundados em tempo de tempestades correm por minhas veias
A vontade de desaguar toda a sujeira no oceano sobrenatural
Minhas veias entupidas de vivacidade e desejos latejantes
Pulsam como bernos cavando crateras no peito em busca de liberdade
Senhor, tenho sonhos aprisionados nas artérias e pulmão
Sequer posso respirar para não perdê-los de vista
Ausências estupidas e medos volúveis, o que posso fazer?
Por mais que eu me entregue mais profundo eu mergulho em mim
E mais escuro são as fossas onde meus sonhos se escondem da superficie
Se ao menos esses córregos transbordassem por minha garganta
E tomasse a forma da palavra dentro de uma estrutura sonora estridente
E num grito forte toda a minha resistência de desarmasse para o mundo
E para o mundo eu libertaria os meus sonhos
Quem cuidaria dos meus sonhos, sujos de córregos e fossas da minha alma?
Quem lhes daria banho, carinho e alimento para crescerem fortes?
Não tenho medo da morte! Tenho medo da chuva!
A chuva que inunda as ruas das minhas noites vazias!
Um grito de sobrevivência clama por um forasteiro desbravador
Que, com coragem e astucia, iria caminhar pelos córregos, contra a correnteza
Viria me resgatar de minha prisão inventada, somente para provar de um beijo
Um simples beijo representa a muralha vencida que barram as aguas da minha felicidade
Meus sonhos querem correr livres em alta velocidade como uma cachoeira despenca do alto
Minha felicidade se revela nessa queda-livre e meus sonhos assim sobrevivem!