Por Jefferson Acácio
Eu estava no meu caminho do trabalho para casa. Vim caminhando como de costume, pois são apenas algumas léguas que economizam o transporte para tomar uma cerveja no fim de semana. Poucos dias antecediam a semana santa, e eu já estava em clima de omissão dos pecados. Não ria de mim, não faço isso por maldade intencional, mas realmente prefiro omitir, pois é tanto pecado que uma semana me deixaria em dividas. Foi logo no cruzamento da Avenida Memorial com o Largo da Mariquita, que tombei num rapaz. Não foi nada proposital, asseguro que da minha parte não foi, pois eu andava descontraído com meus pensamentos. Tenho esse hábito de conversar sozinho pela rua.
Ao passar pelo rapaz, acho que suspirei de cansaço, e disse em voz baixa "Só me falta uma cama agora". Para ser mais preciso, eu fitei a presença do garoto que parecia estar também distraído, quando cruzou ao meu lado muito lentamente. Nesse mesmo momento que suspirei, e disse a tal frase, em segundos olhamos ao mesmo tempo para trás. Ele desculpou-se pelo pequeno e quase despercebido esbarrão. Nesse instante, observei-o e pensei em voz alta "é belo". O rapaz voltou-se e chamou-me dizendo "Me conhece?". Parei envergonhado, e sem respostas, com expressão de quem não ouviu a pergunta. Ele aproximou e refez "Disse que sou Belo. Como sabe meu nome?". Eu ri da situação, e realmente “não sabia seu nome, apenas pensei alto e surtiu a coincidência”, respondi-o. Suei frio, mas logo me subiu um calor.
Ele já movia o corpo pra continuar sua caminhada, quando compreendeu o elogio e voltou-se "E o que disse antes da coincidência?". Já estávamos reféns da circunstância, e no clima de uma paquera. Poeticamente, eu diria que estávamos reféns do destino. Repeti meu comentário, dessa vez intencionalmente semeei o apetite pelo belo com um olhar incisivo e compenetrado, articulando as palavras: "Só me falta uma cama agora", disse a frase com um meio-sorriso sádico.
“Safado”. Pode jogar na minha cara. Nem precisasse, ele mesmo o fez. Eu ri dissimuladamente pelo elogio retribuído e apontei o caminho para minha casa, mas a dele estava mais próxima. “Coincidência”, dissemos juntos. Ele envermelhou-se. Licença para uma narrativa poética, deliciada de figuras de palavras. Nossa! Só em pensar dá água na boca. Refiro-me à narrativa poética da nossa foda.
Sou um cuidadoso fazendeiro, e costumo arar muito bem a terra, deixar regada e macia. Corro todo o pasto molhando-o lentamente, apalpando o chão molhado. A textura estava muito boa, justamente como presumia baseado na minha experiência. Realmente farta terra! Um belo solo que fiz questão de sentir com todo o meu corpo, numa interação entre a carne e o barro. Adoro essa natureza! Como foi bela essa mistura de mim com a terra, que logo eu já fazia parte do ecossistema, criando raízes e entregando-me ao esquecimento do tempo. Enterrei um pedaço de pau. Procedimento de fazendeiro antes de cavar o fértil solo e plantar a semente. Sinceramente, eu já não sabia se era eu o fazendeiro ou eu era a terra tamanha interação. Um poder tremendo se manifestava entre nós. Testosterona e fertilizante aliados ao bom adubo afastavam todas as pragas e joios ao redor da fazenda Marquês.
"Belo, as nádegas"... Ele não se esquecia das boas palmadas, pois gostava da reação do meu contrair e dos gemidos. Ele enterrou toda a vergonha na cova, enquanto eu enterrava a minha no travesseiro. Quando entramos pra sua casa, ele gaguejava que estava curioso de saber como essas coisas acontecem. Curioso como ele gostou tão rapidamente das ‘coisas’. Como um iniciante em montaria, que, em segundos, toma as rédeas e sai cavalgando como um belo cavalheiro. “Você é aplicado e aprende rápido” – Comentei percebendo o short estufado. ‘Curioso’
Papeamos no sofá, pouco falatório, eu falava vinho e ele respondia vodka. Rasgamos nossas embalagens, nossos rótulos no percurso do sofá até cama. Minto, antes passamos pela cozinha acho que pra tomar mais um gole de cana. Logo ele exercia o poder fálico e nada falamos desde então. Nada decifrável e traduzível. Apenas monossílabo e expressões de linguagem coloquial, interjeições no intransitivo direto "Vai! Mete! Ah! É isso! Humm! Vem! Mais! Caralho!"...
O tempo arruína tudo, já era metade da madrugada, e dormir era necessário!
Parabéns Cruz! um conto interessante sem muita apelação!
ResponderExcluirBoa sorte nos próximos!
Nino Britto
Parabéns você é o cara,todas as suas realizaçôes sendo até "profanas"quando traduzidas em palavras tornam-se SAGRADAS...
ResponderExcluir#Saudades, um grande abraço.#
Puts, so suspeito em falar.. vc tem o dom das palavras!!!
ResponderExcluirAlém de manusear muito bem as palavras, cativa o leitor com o tesão, expresso nas palavras e entrelinhas. Parabéns Jeff!!
ResponderExcluir100 comentário, uma jóia rara, um convite a excitação mental só de imaginar o acontecimento. "quem me dera ao menos uma vez..."
ResponderExcluirSucesso sempre.
Uma leitura divertida e excitante. Você tem o dom de lidar com as palavras de um jeito muito natural e envolvente. Parabéns!
ResponderExcluirum dia ele disse que me veria por aqui. bem, ele acertou.
ResponderExcluirWill Assunção.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEu quero ser o BELO desse texto explendido!
ResponderExcluirParabéns..!!!