Por Jefferson Acácio
Aqui, reduzido às cinzas do teu cigarro.
Produto das tuas chamas apagadas
Consumistes-me até os calos e valores
Sou metade do teu vício jogado fora
Sou as sobras e as sombras de cada hora
Aqui, essa labareda entreapagada
Que aspira pelo teu oxigênio para reacender
Mas é perigo que caias de novo no vicio
Mas consumir-me é tua função,
Venha cheio de voracidade e excitação.
Antes das cinzas eu sou o cinzeiro
Antes do cinzeiro eu sou o teu cigarro e fumaça esvaída
Antes da fumaça eu sou chumaço de fogo e faísca
Eu sou um amante que causa dependência química
Eu sou a própria química da tua vida absenteísta.
Foto Vinicius Neves(http://www.vestudio-portfolio.blogspot.com/)
domingo, 11 de abril de 2010
Amor Primitivo
Por Jefferson Acácio
Cuidado, sou homem da caverna
Sou de lá da pré-história
Só conheço o amor primitivo
Sou do tempo da pedra
Escrevo nosso nome com fogo
Feito escravo me entrego acorrentado
Desde ancestrais comuns, evoluirei ao teu lado
Sou um indelinquente apaixonado
Fugindo desse planeta modernizado
E por ti sempre desarmado
Nada mais tenho, que o amor primata
Não sou nenhum diplomata de terno, gravata e indecências
Estou por cima da pele viva, transcendendo a própria carne.
Explodindo de nostalgia, de essencialidade,
Recusando amores da artificialidade!
Não quero um amor de relicário
Desses que enfeitam cartas e porta-retratos
Quero o amor de Primitivos, quero falar essa linguagem!Arrependimento Mata?
Por Jefferson Acácio
O teu “não” desencadeou meus passos amedrontados para o asfalto
Sem cuidado invadi o trânsito que parou contra meu delito.
Enfurecido, continuaram as pernas na desordem e no perigo
Desmontando-me entrei no meu carro.
Retrovisor quebrado.
Peguei a chave, sem controle, encarei o volante.
Não era dia chuvoso mais liguei o pára-brisa.
Não era noite, mas acionei os faróis.
Carro e lágrimas em alta velocidade
Não estava embriagado, mas via tudo girar.
O “não” martelava na cabeça e eu mastigava-o na boca.
Ele era o fonema, meu combustível infinito fugindo da garganta aos soluços.
Eu seguia somente a sinalização na pista
E uma idéia fixa de delinqüente, dirigindo na contramão.
Sem freios cruzando as esquinas e bairros sem nome.
E na curva à direita não enxerguei as placas
O susto!...Outro carro!... E meu grito desesperado:
- Não!
Esse foi o pesadelo de uma noite perturbada
Quando o teu não me pareceu uma faca afiada
Ao acordar assustado, estava você ainda ao meu lado
Dizendo-me um “Sim” atrasado, constrangido
Então veio na minha cabeça uma pergunta
Que só a mim fazia sentido:
- Arrependimento mata?
O teu “não” desencadeou meus passos amedrontados para o asfalto
Sem cuidado invadi o trânsito que parou contra meu delito.
Enfurecido, continuaram as pernas na desordem e no perigo
Desmontando-me entrei no meu carro.
Retrovisor quebrado.
Peguei a chave, sem controle, encarei o volante.
Não era dia chuvoso mais liguei o pára-brisa.
Não era noite, mas acionei os faróis.
Carro e lágrimas em alta velocidade
Não estava embriagado, mas via tudo girar.
O “não” martelava na cabeça e eu mastigava-o na boca.
Ele era o fonema, meu combustível infinito fugindo da garganta aos soluços.
Eu seguia somente a sinalização na pista
E uma idéia fixa de delinqüente, dirigindo na contramão.
Sem freios cruzando as esquinas e bairros sem nome.
E na curva à direita não enxerguei as placas
O susto!...Outro carro!... E meu grito desesperado:
- Não!
Esse foi o pesadelo de uma noite perturbada
Quando o teu não me pareceu uma faca afiada
Ao acordar assustado, estava você ainda ao meu lado
Dizendo-me um “Sim” atrasado, constrangido
Então veio na minha cabeça uma pergunta
Que só a mim fazia sentido:
- Arrependimento mata?
Amor Introvertido
Por Jefferson Acácio
Fixamos o olhar e nossos disfarces se revelam.
Está implícita a exaltação de ânimos
Cada vez que nos encontramos
Nossas almas se amassam antes que o corpo confesse
Está claro que nos enamoramos escondidos
Numa intimidade em algum mundo paralelo
E não há resgate desse universo isolado
Intimados pelos julgamentos convencionados
Em plena modernidade, reside ainda o clero
E nossos sentimentos exilados dessa repressão
Cada sorriso nosso nos condena
Convivemos em cada suspiro etéreo
E nossas línguas se acariciam em ambientes esotéricos
E tudo se torna tão introspectivo
Um amor que se expressa cá dentro
Nesse peito envergonhado, achando que amar é pecado
Fixamos o olhar
É doçura
E habitamos num lugar
Onde se conservam o amor introvertido
Fixamos o olhar e nossos disfarces se revelam.
Está implícita a exaltação de ânimos
Cada vez que nos encontramos
Nossas almas se amassam antes que o corpo confesse
Está claro que nos enamoramos escondidos
Numa intimidade em algum mundo paralelo
E não há resgate desse universo isolado
Intimados pelos julgamentos convencionados
Em plena modernidade, reside ainda o clero
E nossos sentimentos exilados dessa repressão
Cada sorriso nosso nos condena
Convivemos em cada suspiro etéreo
E nossas línguas se acariciam em ambientes esotéricos
E tudo se torna tão introspectivo
Um amor que se expressa cá dentro
Nesse peito envergonhado, achando que amar é pecado
Fixamos o olhar
É doçura
E habitamos num lugar
Onde se conservam o amor introvertido
Amor Calculado
Por Jefferson Acácio
Aprendi nos tempos de escola
Que a matemática está presente em tudo na vida
Eu ainda não tinha conhecimento da tabuada
E ainda apanhava de palmatoria para aprender a raíz quadrada
Muito eu treinava de tanto teste mal feito
Pelo menos a matemática do amor não podía ter defeito
Levei os cálculos à risca e aprendi o amor nas sentenças
A matemática não falha, pois que tudo é equilibrado
Então amor, nao duvide de mim quando lhe dou essa flor
Reconheça meu cálculo e minha lógica matemática
Somos produtos notáveis apaixonados!
Uma relação de pertinência, eu sou teu, e você é meu. (Ponto)
Não há como fugir dessa condição.
É adição e não subtração! É uma relação de inclusão!
Formamos um conjunto de intersecção que não se divide em frações tolas!
Nosso amor é unidade de medidas, proporções de mesma massa na balança.
Multiplique o mínimo de aproximação comum entre nós
E teremos conquistado o máximo de amor nos resultados.
Somos sistemas de equações simultâneas.
Desenhando juntos planos cartesianos num feixe paralelo de pernas.
Que bela composição de ângulos! Que enquadramento mágico na cena!
Resolva as sentenças abertas com duas variáveis:
- Ou leva zero no meu teste de apaixonado... Ou se entrega à fórmula natural do amor!
Não trago nenhum castigo pela sua nota
Ainda apanho igualzinho como na escola
Pois ainda estou aprendendo as regras do amor calculado
Aprendi nos tempos de escola
Que a matemática está presente em tudo na vida
Eu ainda não tinha conhecimento da tabuada
E ainda apanhava de palmatoria para aprender a raíz quadrada
Muito eu treinava de tanto teste mal feito
Pelo menos a matemática do amor não podía ter defeito
Levei os cálculos à risca e aprendi o amor nas sentenças
A matemática não falha, pois que tudo é equilibrado
Então amor, nao duvide de mim quando lhe dou essa flor
Reconheça meu cálculo e minha lógica matemática
Somos produtos notáveis apaixonados!
Uma relação de pertinência, eu sou teu, e você é meu. (Ponto)
Não há como fugir dessa condição.
É adição e não subtração! É uma relação de inclusão!
Formamos um conjunto de intersecção que não se divide em frações tolas!
Nosso amor é unidade de medidas, proporções de mesma massa na balança.
Multiplique o mínimo de aproximação comum entre nós
E teremos conquistado o máximo de amor nos resultados.
Somos sistemas de equações simultâneas.
Desenhando juntos planos cartesianos num feixe paralelo de pernas.
Que bela composição de ângulos! Que enquadramento mágico na cena!
Resolva as sentenças abertas com duas variáveis:
- Ou leva zero no meu teste de apaixonado... Ou se entrega à fórmula natural do amor!
Não trago nenhum castigo pela sua nota
Ainda apanho igualzinho como na escola
Pois ainda estou aprendendo as regras do amor calculado
Alto-Programada
Por Jefferson Acácio
Não sou alto-programada!
Lava, enxuga, dobra e passa
Escuta e obedece, executa e agrada
Não sou alto-programada!
Que empresta meu corpo à cama
Que empresta minha boca ao teu beijo
Nem que empresta minhas ancas ao teu deleite
Não sou alto-programada!
A qualquer momento posso precisar de gestos mais sensíveis
Um casamento não pode se limitar às tarefas domésticas
E a cama não pode se limitar ao descanso da carne
Não sou alto-programada!
Pelas manhãs, não basta dizer de longe, apressado – Tchau, te amo!
Quem disse que o maior compromisso é a casa?
Antes de lavar os pratos, o banheiro, as roupas...
A faxina começa com um beijo de sugar a alma.
Pois é, não sou alto-programada!
Não sou alto-programada!
Lava, enxuga, dobra e passa
Escuta e obedece, executa e agrada
Não sou alto-programada!
Que empresta meu corpo à cama
Que empresta minha boca ao teu beijo
Nem que empresta minhas ancas ao teu deleite
Não sou alto-programada!
A qualquer momento posso precisar de gestos mais sensíveis
Um casamento não pode se limitar às tarefas domésticas
E a cama não pode se limitar ao descanso da carne
Não sou alto-programada!
Pelas manhãs, não basta dizer de longe, apressado – Tchau, te amo!
Quem disse que o maior compromisso é a casa?
Antes de lavar os pratos, o banheiro, as roupas...
A faxina começa com um beijo de sugar a alma.
Pois é, não sou alto-programada!
Do Big-Bang ao Bang-Bang
Por Jefferson Acácio
O iluminismo das velas, terços e patuás.
Sinalizam a procissão se aproximando
Maquiagem natural de sofrimento no rosto
Vestígios de trabalho desenhados na mão
Mãos cravadas ao rosário
Acompanham o menino Jesus
Mãos firmes, no símbolo,
Carregam a cruz
Signos de morte na romaria
Existencial de vidas póstumas
Seguem em busca ritual
Da pós-fome, pós-sede, pós-carne, pós-alma.
Sagrada romaria de fé
Esse é o espírito tradicional
Enraizado no mundo materialístico
Onde o poder do homem robótico é mais holístico
Do big-bang ao bang-bang
Assistimos confortáveis no sofá
Homens compressos e miúdos
Em cenas esmiuçadas na TV
Guerreando por lucros entre as nações
Manifestando o luto nas emoções
E a luta de todos nós
Sobrevivendo à aventura lunática
Tomamos comprimidos
Para não regurgitar
Ingerimos toxinas de ganância e ódio
Injetamos venenos de prazer para no remediar
Respirar, voar, nos locomover...
São valores meramente convencionais
Estamos cada vez mais convencidos
Que a realidade de viver é consumir a vida
A propina empina o nariz e ensina
Que Deus é dinheiro no bolso
E muito dinheiro no bolso
É plástica no nariz
Assim, entramos numa cegueira coletiva.
Que nos impõem as imagens televisivas
Imaginem que ate mudo ficamos
Para não resmungar
Estamos regredindo ao tempo zero
Regularizando os parafusos industriais da cyberlogia
Se adaptando às condições
Da nova hipocondria social
Viva à antropofagia entre os homens cegos!
Viva ao homem entrando no pântano!
Viva as nossas prisões pessoais!
Viva cada vez mais aos carnavais!
Armaram um atentado para o amor
É o terrorismo entre os homens
Erguendo os muros altos de Berlim
E fazendo fronteiras pelas terras-do-sem-fim!
Solidificando-se...
Compressando-se...
Com pressa voltando à caverna
Escura e lodosa de Platão
Filas plantão nos hospitais
Para ver Madalenas apedrejadas
Para fotografar Joana D’Arc queimada
Rir do Judas condicionado à corda proposital
Estamos a um passo da cova
Covardes que somos,
Esquecemos Lutero
E pagamos indulgências pelo paraíso eterno
É que inventaram que existe
Imposto ate no céu
E o orçamento do purgatório
Parece estar em promoção
Que SUS-to! E vejo filas enormes
Parece o SUS!
Voltem depressa para a estrada
Certa e segura das romarias de JE-SUS!
Regozijem-se da herança prometida
Nas profecias de João
Porque o tempo... Ao contrario de Cazuza:
- O tempo pára!
VERSÕES MENORES:
O iluminismo das velas, terços e patuás.
Sinalizam a procissão se aproximando
Maquiagem natural de sofrimento no rosto
Vestígios de trabalho desenhados na mão
Mãos cravadas ao rosário
Acompanham o menino Jesus
Mãos firmes, no símbolo,
Carregam a cruz
Signos de morte na romaria
Existencial de vidas póstumas
Seguem em busca ritual
Da pós-fome, pós-sede, pós-carne, pós-alma.
Sagrada romaria de fé
Esse é o espírito tradicional
Enraizado no mundo materialístico
Onde o poder do homem robótico é mais holístico
Do big-bang ao bang-bang
Assistimos confortáveis no sofá
Homens compressos e miúdos
Em cenas esmiuçadas na TV
Guerreando por lucros entre as nações
Manifestando o luto nas emoções
E a luta de todos nós
Sobrevivendo à aventura lunática
Tomamos comprimidos
Para não regurgitar
Ingerimos toxinas de ganância e ódio
Injetamos venenos de prazer para no remediar
Respirar, voar, nos locomover...
São valores meramente convencionais
Estamos cada vez mais convencidos
Que a realidade de viver é consumir a vida
A propina empina o nariz e ensina
Que Deus é dinheiro no bolso
E muito dinheiro no bolso
É plástica no nariz
Assim, entramos numa cegueira coletiva.
Que nos impõem as imagens televisivas
Imaginem que ate mudo ficamos
Para não resmungar
Estamos regredindo ao tempo zero
Regularizando os parafusos industriais da cyberlogia
Se adaptando às condições
Da nova hipocondria social
Viva à antropofagia entre os homens cegos!
Viva ao homem entrando no pântano!
Viva as nossas prisões pessoais!
Viva cada vez mais aos carnavais!
Armaram um atentado para o amor
É o terrorismo entre os homens
Erguendo os muros altos de Berlim
E fazendo fronteiras pelas terras-do-sem-fim!
Solidificando-se...
Compressando-se...
Com pressa voltando à caverna
Escura e lodosa de Platão
Filas plantão nos hospitais
Para ver Madalenas apedrejadas
Para fotografar Joana D’Arc queimada
Rir do Judas condicionado à corda proposital
Estamos a um passo da cova
Covardes que somos,
Esquecemos Lutero
E pagamos indulgências pelo paraíso eterno
É que inventaram que existe
Imposto ate no céu
E o orçamento do purgatório
Parece estar em promoção
Que SUS-to! E vejo filas enormes
Parece o SUS!
Voltem depressa para a estrada
Certa e segura das romarias de JE-SUS!
Regozijem-se da herança prometida
Nas profecias de João
Porque o tempo... Ao contrario de Cazuza:
- O tempo pára!
VERSÕES MENORES:
Do Big-Bang ao Bang-Bang
O iluminismo das velas, terços e patuás.
Sinalizam a procissão se aproximando
Maquiagem natural de sofrimento no rosto
Vestígios de trabalho desenhados na mão
Mãos cravadas ao rosário
Acompanham o menino Jesus
Mãos firmes, no símbolo,
Carregam a cruz
Signos de morte na romaria
Existencial de vidas póstumas
Seguem em busca ritual
Da pós-fome, pós-sede, pós-carne, pós-alma.
Sagrada romaria de fé
Esse é o espírito tradicional
Enraizado no mundo materialístico
Onde o poder do homem robótico é mais holístico
Do big-bang ao bang-bang
Assistimos confortáveis no sofá
Homens guerreando por lucros entre as nações
Manifestando o luto nas emoções
Estamos a um passo da cova
Covardes que somos,
Esquecemos Lutero
E pagamos indulgências pelo paraíso eterno
É que inventaram que existe
Imposto ate no céu
E o orçamento do purgatório
Parece estar em promoção
Regozijem-se da herança prometida
Nas profecias de João
Porque a qualquer momento
Passaremos dessa aventura como poeira no espaço!
Cegos no pântano!
Respirar, voar, nos locomover...
São valores meramente convencionais
Estamos cada vez mais convencidos
Que a realidade de viver é consumir a vida
A propina empina o nariz e ensina
Que Deus é dinheiro no bolso
E muito dinheiro no bolso
É plástica no nariz
Armaram um atentado para o amor
É o terrorismo entre os homens
Erguendo os muros altos de Berlim
E fazendo fronteiras pelas terras-do-sem-fim!
Filas de plantão nos hospitais
Para ver Madalenas apedrejadas
Para fotografar Joana D’Arc queimada
Rir do Judas condicionado à corda proposital
Viva à antropofagia entre os homens em suas prisões pessoais
Compressando-se com pressa de volta ao lamaçal
Viva a Platão e o mito da caverna escura e lodosa!
Viva aos homens lutando pela sobrevivência no pântano da cegueira existencial!
sábado, 3 de abril de 2010
Douradinho Meia-Dia
Por Jefferson Acácio
Quando você tirar a venda
Não vai querer me vender pra ninguém
Vai me levar pro escurinho
Amor, um cineminha cai bem
Quando você visitar minha casa
Não vai querer outro caso com alguém
Vai me comprar pela boca
Amor, uma cervejinha cai bem
Se me arrastar para a cama
Prometo que não faço um drama
Se pensar que eu caí no seu papo
Amor, aí que você se engana
Quando você toca um pandeiro
Arrepia meu corpo inteiro
E quando amarra meu nome num verso
Declaro esse amor para o universo
Irá se importar quando eu escrever uma modinha
Irá se incomodar quando eu papear sobre você pra vizinha
Irá se irritar quando o feijão pegar na panela
Irá me amar mais, se eu deixar no teu corpo aroma de canela?
Cai bem te fazer subir pelas paredes
Pra concertar as goteiras do assoalho
Cai bem refogar você de óleo e alho
Pra te comer douradinho, ao meio-dia, bem temperado
quinta-feira, 1 de abril de 2010
* Taurinos, Arenas e Touradas
Por Jefferson Acácio
Quando terminamos um namoro, resolvemos ser donos da nossa própria vida, mesmo sem saber ao certo o que fazer, e ainda assim caímos nas armadilhas do entretenimento pra servir de comida, cobaia e mercadoria nos braços de monstros pitorescos. Eu ja cai em muitos desses abísmos. Com isso, já tive medo dos vampiros, sangue-sugas, feiticeiros, caçadores, e do lobo malvado das histórias infantis. Eu já havia superado a covardia por essas figuras masculinas sinistras, monstruosas, viris ou encantadoras, entretanto me deparei com um novo terror, que prefiro chamar de toureiro. Estes são tradicionalmente conhecidos como coches de gala, porque vestem-se como os rapazes do século XVIII ou os trajes do fim do século XIX. Sua aparência doce é contestável.
Taurino, como sou, busco a segurança, e por isso tento sair da rota de atração dos toureiros, mas o meu perfume exótico é captado vilmente pelo olfato apurado desses cavaleiros, e não há tempo de esconder-se, pois eles podem também chegar a cavalo, e interceptar minha fuga. Músculos, confrontos, suor, espadas e principalmente um talo verde de rosa vermelha carregado entre os dentes, e logo sou capturado pelo encantamento, do mesmo modo como atraio os jovens coches com meu inevitável temperamento sensual e a suavidade de meus cabelos.
Sou um taurino vulnerável, e carrego a senciência na minha natureza, assim tenho a sensível capacidade de sentir prazer, sofrimento ou fúria. A vulnerabilidade e a abstinência são minhas fraquezas confessas, assim escondo-me na pele invisível, áspera e empoeirada. Se tocarem minha pele serão despertados pela maciez, e farão de mim como os animais não-humanos - uma mera propriedade - dispondo da minha pele e da minha carne, para suprir seus desejos volumosos, e satisfazendo suas curiosidades volúveis, desde o paladar ou simplesmente por diversões voláteis.
Não escondo-me por muito tempo, pois a música me chama, assim como o cheiro de comida farta, de vinho doce, ou o cheiro de gente. Levo muito tempo resolvendo se quero um relacionamento realmente sério, pois tal conquista, quando vitoriosa, leva a minha noção de realidade, ou mais claramente, torno-me surdo por qualquer advertência de incompatibilidade apontadas pelos amigos. Quando apaixonado, quero transformar a semente em substância, aproximar o sol da lua, banhar-me de santa chuva e mergulhar em mil outras fantasias.
Certo domingo, um velho amigo visitara-me, contando nossas anedotas do passado, e outras lembranças das Ilhas Canárias, localizada numa região da Espanha, sendo Santa Cruz de Tenerife, a capital e nossa cidade natal. Rimos a beça, num clima descontraído, com bebidas e uma boa mesa, quando ele fez o convite para irmos a uma balada noturna. Convenceu-me rapidamente, pois tratava-se de um grande amigo, e não o deixaria insistir. Shasár é um dançarino, espanhol, da minha idade, 24 anos, quase do mesmo porte físico. Atualmente passamos uma vasta temporada no nordeste do Brasil, onde vim a turismo e nunca mais voltei até então. Trocamos figurinos, relembrando os velhos tempos, e fomos ao clube Tropicália, um luxuoso e recém reformado espaço de entretenimento de música eletrônica.
Ao chegar no local, assim que passamos pela porta que dá acesso à pista de dança, com os refletores quase hipnóticos e luzes vermelhas, enxerguei os olhares famintos. “Encontraram-me”, eu disse em pensamentos, balbuciando as palavras. Eles pareciam decifrar meus lábios simultaneamente. Um tocava nos ombros do outro, passando o comentário, e como um rastro de luz, todos os outros toureiros já estavam comunicados, que mais um taurino estava na arena eletrônica, e totalmente desprevenido. Shasár puxou-me pelo braço dizendo-me “Vamos Vegan, como nos velhos tempos!”, e assim me conduziu até a arena principal, próximo ao equipamento do DJ da noite. Eu sentia-me como um coelho numa armadilha, pronto para ser atacado.
Parecia a Plaza de Toros de las Ventas, em Madrid, mas tinha o clima atmosférico semelhante com a Plaza de Toros do México. Os outros touros estavam gastados, e no momento eu era a carne nova, que havia de ser repartida em pedaços iguais. Um novilho. O espetáculo havia começado, anunciado pela música estridente, e pelos assovios do público. A torcida estava eletrizante e expeliam fumaça de objetivas expectativas. Queriam ver a lide, e o touro completamente dominado.
Os forcados, grupo amador que enfrenta o touro a pé, foram os primeiros a avançar. Vestidos de adornos de ossos, pêlos e marfim. Os dentes trincavam, cheirando a sexo, e com um papo insolente e avassalador, com a tentativa de levar-me a uma vida social intensa, e me “castigar de prazer!”, dizia um deles, mascando um chilete, provavelmente antes de entrar no clube, e assim acreditava que chamava atenção. Foram muito insistentes, e tentaram imobilizar meu corpo com a força dos braços malhados, com um tom de madeira envernizada. Mas, eu continuei firme, enraizado na terra, e não cai na conversa.
Os bandarilheiros vieram em seguida, efetuando algumas manobras com um capote, com coreografias sincronizadas e sensuais, que pareciam dançarinos contratados para animar o ambiente. Admirei-os e até segui alguns passos. Havia um empinado, cintura curvada, com aqueles dois gumos na cintura. Outro derramou-lhe uma bebida nas costas. Este desceu, e ficou agaixado por alguns segundos, e então levantou-se como as morenas dos grupos de forró aqui do Brasil, jogando todo o traseiro para trás, faltando cinco centímetros para encostar em mim. Se eu estivesse nu, teria feito alguma diferença. Estes quase me cativaram, mas ainda não foi o bastante para derrubar este tauro. Vieram também os novilheiros, os campinos e outros intervenientes, aplicando as técnicas da arte tauromáquica.
Meu amigo Shasár estava o tempo todo ao meu lado, e corriqueiramente debruçava-se sobre os braços dos cavaleiros, enquanto eu media forças para defender-me. Estávamos no primeiro piso da Tropicália, e descemos para comprar um drink. Uma pausa para a entrada de um aventureiro, desconhecido para mim e Shasár, mas acalentava a espera dos demais. Era como a estrela daquela noite e vestia uma bela indumentária de rigor. Um tecido vermelho amarrado a cintura. Adornos de pérolas, penas, couro e camurça. Um tanto vampiresco, a pele alva, provavelmente fria e gélida do inverno fora daquele clube. Uma versão eletrônica de um tango tocou nesse exato momento. Em murmúrios e sussurros seu nome se repetia – Éduard Manert. Ele não olhou-me.
Eu continuava com a mesma sensação, como se estivesse correndo toda a arena pueril, repleta de pagantes ao redor, sentados nas arquibancadas, como no formato circular dos estádios de futebol, porém com um estilo romano, mais precisamente o Circo de Termes, na península ibérica, onde os celtiberos sacrificavam os touros em rituais sagrados. O vinho era servido em taças de ouro, e estes faziam as apostas em moeda, como nas competições de jóquei. A torcida clamava por sangue e desejavam o castigo do corpo. O meu corpo era o jogo. O corpo de um taurino, o corpo de um touro. E quem havia de ser meu capataz se todos os cavaleiros coches não conseguiram me derrotar? Mas confesso, que cansaram-me, minhas pernas já estavam quase frágeis de correr e eu clamava por Vênus para reger meus passos. E minha regente só mostrava-me o saliente rapaz, que parecia não me observar, ou assistia meu escarnio, esperando a hora do seu ataque de feromônio e virilidade. Ao meu redor só havia ele, Éduard! Éduard! Éduard! Bradava a plateia perturbando-me os pensamentos. Éduard! Repetia-se com uma cantiga de capoeira, rabo de arraia, benção, ponta-de-pé, rasteira. Eu estava completamente embevecido . E onde estaria Shasár? Meu nobre amigo abandonara-me.
Cansado e completamente passivo, vulnerável, e submisso feito um animal de circo entretendo o povo. Gargalhadas, palavrões e diversos tipos de ofensas.. Diziam aos berros “Agarrem-no pelos cornos, e puxem-no pelo rabo! Puxem-no pelo rabo!”, e cuspiam o vinho de uvas amargas, tal como denunciava o olhar de nojo. Em plena semana santa, e o pecado a flor da pele. Que frívolos e cruéis!
Vênus ainda não havia se manisfestado. Arrastei os pés no chão e supliquei por Gê, semelhante ao meu apelido na infância, embora seja mais conhecida como Gaia ou Géia, segunda divindade primordial após Caos, deusa da Terra, e dona de uma força absurda capaz de gerar sozinha o Urano, os Pontos e as Montanhas. Podia enviar um de seus doze filhos titãs, ou emprestar do peito o aço em foice afiada. Mas, nada. Eu estava mesmo sozinho, e rendido naquela noite de saga.
Quando a minha primeira gota de suor molhou o chão, Éduard curvou-se em minha direção, como um vampiro quando pressente o sangue latente de sua presa. Já fui mordido diversas vezes que acostumei-me, tanto que um dos meus últimos noivados falidos foi com um vampirinho de presas afiadas e olhar fulminante. Éduard aproximou-se tão rapidamente que eu poderia dizer que teletransporte existiu naquele momento, tal como os filmes contemporâneos. Em segundos suas mãos agarravam-me como uma águia, imobilizando-me, então passou a língua pelo meu pescoço da base do ombro até a ponta da orelha, arrepiando meus pêlos, e disse-me em latim “redemptio, corpus, taurus”.
E o grand finale havia chegado... A lide... o Confronto... A pega... Os demais cavaleiros vieram enfincando longas farpas e culminando em freqüentes enfiadas com ferros mais curtos, ditos “de palmos”. Éduard montou em meu dorso, ferozmente, amansando meu corpo até eu aceitar a dor. Aquela mesma dor de paixão, que eu havia recuperado do último namoro, estava novamente plantada no meu pulmão, pois no coração já seria crueldade demais. Em seguida, prometeu-me que iria me colocar ao lado das três estrelas mais brilhantes de tauri, Aldebarã, Alnath, e Hyadum I. Eu seria Delta, uma quarta estrela no espaço sideral.
Após o final deste espetáculo, saímos da balada no clube Tropicália, o sol radiante anunciava uma paixão ou no mínimo o coração amolecido, enfraquecido de tantas lutas e escudos, e praticamente esquecido dos próprio direitos de não ser tratado como propriedade. Desta vez escapei, mas aqui fora a arena tem a dimensão do planeta, e em qualquer lugar que eu vá, eles podem estar a minha espreita, a todo momento, exalando fumaça dos poros, a todo vapor. Estou a beira de novos confrontos... Taurinos, arenas e touradas.
Quando terminamos um namoro, resolvemos ser donos da nossa própria vida, mesmo sem saber ao certo o que fazer, e ainda assim caímos nas armadilhas do entretenimento pra servir de comida, cobaia e mercadoria nos braços de monstros pitorescos. Eu ja cai em muitos desses abísmos. Com isso, já tive medo dos vampiros, sangue-sugas, feiticeiros, caçadores, e do lobo malvado das histórias infantis. Eu já havia superado a covardia por essas figuras masculinas sinistras, monstruosas, viris ou encantadoras, entretanto me deparei com um novo terror, que prefiro chamar de toureiro. Estes são tradicionalmente conhecidos como coches de gala, porque vestem-se como os rapazes do século XVIII ou os trajes do fim do século XIX. Sua aparência doce é contestável.
Taurino, como sou, busco a segurança, e por isso tento sair da rota de atração dos toureiros, mas o meu perfume exótico é captado vilmente pelo olfato apurado desses cavaleiros, e não há tempo de esconder-se, pois eles podem também chegar a cavalo, e interceptar minha fuga. Músculos, confrontos, suor, espadas e principalmente um talo verde de rosa vermelha carregado entre os dentes, e logo sou capturado pelo encantamento, do mesmo modo como atraio os jovens coches com meu inevitável temperamento sensual e a suavidade de meus cabelos.
Sou um taurino vulnerável, e carrego a senciência na minha natureza, assim tenho a sensível capacidade de sentir prazer, sofrimento ou fúria. A vulnerabilidade e a abstinência são minhas fraquezas confessas, assim escondo-me na pele invisível, áspera e empoeirada. Se tocarem minha pele serão despertados pela maciez, e farão de mim como os animais não-humanos - uma mera propriedade - dispondo da minha pele e da minha carne, para suprir seus desejos volumosos, e satisfazendo suas curiosidades volúveis, desde o paladar ou simplesmente por diversões voláteis.
Não escondo-me por muito tempo, pois a música me chama, assim como o cheiro de comida farta, de vinho doce, ou o cheiro de gente. Levo muito tempo resolvendo se quero um relacionamento realmente sério, pois tal conquista, quando vitoriosa, leva a minha noção de realidade, ou mais claramente, torno-me surdo por qualquer advertência de incompatibilidade apontadas pelos amigos. Quando apaixonado, quero transformar a semente em substância, aproximar o sol da lua, banhar-me de santa chuva e mergulhar em mil outras fantasias.
Certo domingo, um velho amigo visitara-me, contando nossas anedotas do passado, e outras lembranças das Ilhas Canárias, localizada numa região da Espanha, sendo Santa Cruz de Tenerife, a capital e nossa cidade natal. Rimos a beça, num clima descontraído, com bebidas e uma boa mesa, quando ele fez o convite para irmos a uma balada noturna. Convenceu-me rapidamente, pois tratava-se de um grande amigo, e não o deixaria insistir. Shasár é um dançarino, espanhol, da minha idade, 24 anos, quase do mesmo porte físico. Atualmente passamos uma vasta temporada no nordeste do Brasil, onde vim a turismo e nunca mais voltei até então. Trocamos figurinos, relembrando os velhos tempos, e fomos ao clube Tropicália, um luxuoso e recém reformado espaço de entretenimento de música eletrônica.
Ao chegar no local, assim que passamos pela porta que dá acesso à pista de dança, com os refletores quase hipnóticos e luzes vermelhas, enxerguei os olhares famintos. “Encontraram-me”, eu disse em pensamentos, balbuciando as palavras. Eles pareciam decifrar meus lábios simultaneamente. Um tocava nos ombros do outro, passando o comentário, e como um rastro de luz, todos os outros toureiros já estavam comunicados, que mais um taurino estava na arena eletrônica, e totalmente desprevenido. Shasár puxou-me pelo braço dizendo-me “Vamos Vegan, como nos velhos tempos!”, e assim me conduziu até a arena principal, próximo ao equipamento do DJ da noite. Eu sentia-me como um coelho numa armadilha, pronto para ser atacado.
Parecia a Plaza de Toros de las Ventas, em Madrid, mas tinha o clima atmosférico semelhante com a Plaza de Toros do México. Os outros touros estavam gastados, e no momento eu era a carne nova, que havia de ser repartida em pedaços iguais. Um novilho. O espetáculo havia começado, anunciado pela música estridente, e pelos assovios do público. A torcida estava eletrizante e expeliam fumaça de objetivas expectativas. Queriam ver a lide, e o touro completamente dominado.
Os forcados, grupo amador que enfrenta o touro a pé, foram os primeiros a avançar. Vestidos de adornos de ossos, pêlos e marfim. Os dentes trincavam, cheirando a sexo, e com um papo insolente e avassalador, com a tentativa de levar-me a uma vida social intensa, e me “castigar de prazer!”, dizia um deles, mascando um chilete, provavelmente antes de entrar no clube, e assim acreditava que chamava atenção. Foram muito insistentes, e tentaram imobilizar meu corpo com a força dos braços malhados, com um tom de madeira envernizada. Mas, eu continuei firme, enraizado na terra, e não cai na conversa.
Os bandarilheiros vieram em seguida, efetuando algumas manobras com um capote, com coreografias sincronizadas e sensuais, que pareciam dançarinos contratados para animar o ambiente. Admirei-os e até segui alguns passos. Havia um empinado, cintura curvada, com aqueles dois gumos na cintura. Outro derramou-lhe uma bebida nas costas. Este desceu, e ficou agaixado por alguns segundos, e então levantou-se como as morenas dos grupos de forró aqui do Brasil, jogando todo o traseiro para trás, faltando cinco centímetros para encostar em mim. Se eu estivesse nu, teria feito alguma diferença. Estes quase me cativaram, mas ainda não foi o bastante para derrubar este tauro. Vieram também os novilheiros, os campinos e outros intervenientes, aplicando as técnicas da arte tauromáquica.
Meu amigo Shasár estava o tempo todo ao meu lado, e corriqueiramente debruçava-se sobre os braços dos cavaleiros, enquanto eu media forças para defender-me. Estávamos no primeiro piso da Tropicália, e descemos para comprar um drink. Uma pausa para a entrada de um aventureiro, desconhecido para mim e Shasár, mas acalentava a espera dos demais. Era como a estrela daquela noite e vestia uma bela indumentária de rigor. Um tecido vermelho amarrado a cintura. Adornos de pérolas, penas, couro e camurça. Um tanto vampiresco, a pele alva, provavelmente fria e gélida do inverno fora daquele clube. Uma versão eletrônica de um tango tocou nesse exato momento. Em murmúrios e sussurros seu nome se repetia – Éduard Manert. Ele não olhou-me.
Eu continuava com a mesma sensação, como se estivesse correndo toda a arena pueril, repleta de pagantes ao redor, sentados nas arquibancadas, como no formato circular dos estádios de futebol, porém com um estilo romano, mais precisamente o Circo de Termes, na península ibérica, onde os celtiberos sacrificavam os touros em rituais sagrados. O vinho era servido em taças de ouro, e estes faziam as apostas em moeda, como nas competições de jóquei. A torcida clamava por sangue e desejavam o castigo do corpo. O meu corpo era o jogo. O corpo de um taurino, o corpo de um touro. E quem havia de ser meu capataz se todos os cavaleiros coches não conseguiram me derrotar? Mas confesso, que cansaram-me, minhas pernas já estavam quase frágeis de correr e eu clamava por Vênus para reger meus passos. E minha regente só mostrava-me o saliente rapaz, que parecia não me observar, ou assistia meu escarnio, esperando a hora do seu ataque de feromônio e virilidade. Ao meu redor só havia ele, Éduard! Éduard! Éduard! Bradava a plateia perturbando-me os pensamentos. Éduard! Repetia-se com uma cantiga de capoeira, rabo de arraia, benção, ponta-de-pé, rasteira. Eu estava completamente embevecido . E onde estaria Shasár? Meu nobre amigo abandonara-me.
Cansado e completamente passivo, vulnerável, e submisso feito um animal de circo entretendo o povo. Gargalhadas, palavrões e diversos tipos de ofensas.. Diziam aos berros “Agarrem-no pelos cornos, e puxem-no pelo rabo! Puxem-no pelo rabo!”, e cuspiam o vinho de uvas amargas, tal como denunciava o olhar de nojo. Em plena semana santa, e o pecado a flor da pele. Que frívolos e cruéis!
Vênus ainda não havia se manisfestado. Arrastei os pés no chão e supliquei por Gê, semelhante ao meu apelido na infância, embora seja mais conhecida como Gaia ou Géia, segunda divindade primordial após Caos, deusa da Terra, e dona de uma força absurda capaz de gerar sozinha o Urano, os Pontos e as Montanhas. Podia enviar um de seus doze filhos titãs, ou emprestar do peito o aço em foice afiada. Mas, nada. Eu estava mesmo sozinho, e rendido naquela noite de saga.
Quando a minha primeira gota de suor molhou o chão, Éduard curvou-se em minha direção, como um vampiro quando pressente o sangue latente de sua presa. Já fui mordido diversas vezes que acostumei-me, tanto que um dos meus últimos noivados falidos foi com um vampirinho de presas afiadas e olhar fulminante. Éduard aproximou-se tão rapidamente que eu poderia dizer que teletransporte existiu naquele momento, tal como os filmes contemporâneos. Em segundos suas mãos agarravam-me como uma águia, imobilizando-me, então passou a língua pelo meu pescoço da base do ombro até a ponta da orelha, arrepiando meus pêlos, e disse-me em latim “redemptio, corpus, taurus”.
E o grand finale havia chegado... A lide... o Confronto... A pega... Os demais cavaleiros vieram enfincando longas farpas e culminando em freqüentes enfiadas com ferros mais curtos, ditos “de palmos”. Éduard montou em meu dorso, ferozmente, amansando meu corpo até eu aceitar a dor. Aquela mesma dor de paixão, que eu havia recuperado do último namoro, estava novamente plantada no meu pulmão, pois no coração já seria crueldade demais. Em seguida, prometeu-me que iria me colocar ao lado das três estrelas mais brilhantes de tauri, Aldebarã, Alnath, e Hyadum I. Eu seria Delta, uma quarta estrela no espaço sideral.
Após o final deste espetáculo, saímos da balada no clube Tropicália, o sol radiante anunciava uma paixão ou no mínimo o coração amolecido, enfraquecido de tantas lutas e escudos, e praticamente esquecido dos próprio direitos de não ser tratado como propriedade. Desta vez escapei, mas aqui fora a arena tem a dimensão do planeta, e em qualquer lugar que eu vá, eles podem estar a minha espreita, a todo momento, exalando fumaça dos poros, a todo vapor. Estou a beira de novos confrontos... Taurinos, arenas e touradas.
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