Por Jefferson Acácio
- “Vamos dar um tempo?” - disse-me após uma discussão inútil e saiu.
Não deu tempo para cuspir de volta o resto do seu beijo. Nem tempo de retocar a maquiagem borrada. Sinto ter perdido o meu tempo com a farsa desse relacionamento com a qual ele levava como um endosso. Assim ele mastigava o malfeito debaixo dos meus olhos freados de estupidez. E agora ele mesmo fez o trabalho sujo de empurrar a bagunça pra debaixo do tapete.
- “Quero você o tempo todo!” – dizia-me com intensidade.
Nem parecia que tivesse ouvido essas palavras há pouco tempo tamanha contradição. Acho que me teve tão freneticamente que o tempo expirou.
- “E o tempo nunca chegava” – Eu reclamava.
As semanas passaram fluidamente despercebidas e as madrugadas incompreendidas, e mais nada rendia senão a espera pelo tempo prometido. Pensei em subordinar o tempo, mas sua função é bem paga: atrasar, apressar e interromper.
- “Quero um tempo!” – Desejei.
Sem pedir licença, vou aproveitar que não tenho mais o tempo para me impedir de sair atrasada, sem hora marcada, sem compromissos e tomar umas tequilas numa balada. Ah, quero blackouts na memória. Quero fazer um escarcéu e expulsar o infeliz de mim com um grito de liberdade. Estou cheia de vaidade!
- Pode chegar tempo com uma profunda ressaca que eu já apaguei.
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